Agricultores na ilha cabo-verdiana de Santiago estão contentes pelas chuvas que caíram este ano, embora esperem mais em outubro para garantir boa colheita, e lamentam a praga da lagarta do cartucho que está a atacar o milho.
“Há muitos anos que estamos a lutar contra esta praga, já não temos esperança porque não há remédio para a combater”, lamentou à Lusa Nelson dos Santos, agricultor e criador de gado de 38 anos, na localidade de Praia Formosa, concelho de São Domingos, o mais próximo da Praia, capital do país.
Os mesmos lamentos são vincados por João José Vaz Tavares, mais conhecido por Tú, de 47 anos. “Estamos a sofrer muito, este ano não vamos ter colheita de milho, só palha, os bichos já comeram tudo”.
Ao primeiro contacto, Tú entra logo no assunto das pragas que estão a dizimar o milho nessa região e criticou o facto de até agora não ter visto nenhum técnico da delegação do Ministério da Agricultura e Ambiente de São Domingos para ajudar no combate.
“Mesmo com mais uma chuva, é difícil apanharmos o milho, apenas feijões”, traçou este homem do campo, no meio do milheiral, praticamente todo mordido por essa lagarta do tamanho de um polegar, mas que causa estragos imensos nessa planta, que já não fortifica.
Também à berma da estrada, mas em Monte Negro, concelho de Santa Cruz, Olívia Miranda, de 83 anos, ainda comprou um bocado de remédio, mas não conseguiu acabar com todos os bichos nas suas terras, que, além do milheiral, estão cobertas de verde com feijões, as duas principais culturas de sequeiro no país.
“Essa praga não existia, só apareceu agora”, afirmou a agricultora, dizendo que se não fosse caro, ainda comprava mais do inseto natural, o trichogramma, com o qual as autoridades cabo-verdianas estão a combater a praga que há alguns anos ataca o milho, desde o crescimento, passando pela floração e impedindo a fortificação, restando apenas o pasto.
“A situação está má porque os bichos estão a danificar muito as culturas”, disse também Maria de Fátima Moreira, 60 anos, mais conhecida por Mariazinha, moradora na localidade de Achadinha, município de São Lourenço dos Órgãos, concelho no centro da ilha de Santiago, onde só começou a chover em agosto.
Esta agricultora acredita que uma das causas para as pragas no milho é a irregularidade das chuvas no país. “Não morre, fica no solo e assim que chover sobe nas plantações”, indicou, acreditando também que só a chuva em abundância poderá eliminar o bicho.
Mas tirando a praga da lagarta do cartucho do milho, todos os agricultores e criadores de gado do interior da ilha de Santiago ouvidos pela Lusa acreditam num bom ano agrícola, com nascentes cheias de água, muito pasto para os animais e feijões em abundância.
Nelson dos Santos referiu que ainda há esperança “porque a terra ainda está molhada”, mas pediu mais chuva porque “é melhor para o milho”. As chuvas caem em todo o país desde junho, com mais intensidade em setembro, após quatro anos irregulares e provocando seca e queda na produção agrícola no país.
“Mesmo com os bichos, se cair mais uma chuva, ainda podemos comer milho por aqui”, insistiu o lavrador, que tem uma horta paredes-meias com João José Vaz Tavares, que, este ano, por causa de uma lesão nas costas, não pôde trabalhar as suas terras, tendo delegado essa função a outros trabalhadores, para dividirem a produção.
“Este ano temos mais esperança porque os cultivos estão animados. Graças a Deus, choveu muito, a terra ainda está molhada, temos boas perspetivas”, notou Olívia Miranda, que praticamente desde criança cultiva as suas terras em Monte Negro, localidade onde nasceu, mas disse que nunca viu tanta praga a atacar o milho na ilha de Santiago como nos últimos anos.
Se o milho ainda não é uma certeza, esta octogenária já enche de feijões o avental que tem enrolado na cintura, à medida que vai desflorando o milho, e garante que se a produção for abundante vai partilhar com quem não tem.
“Temos é esperança em mais uma chuva, estamos a pedir a Deus e, se cair, ficaremos contentes”, perspetivou a proprietária do terreno.
Mesmo com a chuva a cair mais tarde em Achadinha – só em agosto – Mariazinha aponta para os campos cobertos de verde e disse também que tem fé numa boa colheita.
“Este ano a situação está melhor porque há zonas com alguma garantia, se não der para fazermos colheita aqui, pelo menos faz-se em outras zonas e podemos comer também”, afirmou a proprietária de uma horta onde cultiva 12 litros de milho e feijões com os filhos.