A Ucrânia acusou hoje a Rússia de atrasar deliberadamente a partida de mais de 165 navios de transporte de cereais, alargando inspeções realizadas segundo o acordo alcançado sobre estas entregas, cruciais para muitos países de África e Ásia.
“Desde 14 de outubro de 2022, os inspetores russos destacados para o centro de coordenação conjunta em Istambul estenderam significativamente a inspeção dos navios que se dirigem aos portos ucranianos para receber cereais ou que já foram carregados e estão a caminho do seu destino final”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano em comunicado.
“Como resultado, mais de 165 navios estão retidos perto do Estreito de Bósforo, e este número continua a aumentar todos os dias”, acrescentou, denunciando atrasos “politicamente motivados”.
De acordo com o ministério ucraniano, os atrasos retêm três milhões de toneladas de cereais destinadas a abastecer 10 milhões de pessoas.
Kiev acusou Moscovo de “minar a segurança alimentar global” e apelou à comunidade internacional para que pressione Moscovo.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já tinha acusado na sexta-feira a Rússia de adiar “deliberadamente” a passagem de navios.
Segundo Zelensky, a China, o Egito, o Bangladesh, a Indonésia, o Iraque, o Líbano e os países do Magrebe estão entre os Estados afetados por estes atrasos.
Moscovo e Kiev acordaram em julho retomar as exportações de cereais da Ucrânia, um dos maiores produtores mundiais, interrompidas desde o início da guerra no final de fevereiro, após um acordo patrocinado pela ONU e pela Turquia.
Mais tarde, a Rússia criticou o acordo, dizendo que as suas próprias exportações foram dificultadas pelas sanções impostas pelos países ocidentais.
A Rússia lançou uma ofensiva militar em território ucraniano que dura há oito meses e ameaça prolongar-se, uma invasão condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com apoio económico e militar à Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções políticas e económicas sem precedentes.
A guerra já provocou pelo menos 6.374 mortes de civis e 9.776 feridos, dados que a ONU dá como confirmados, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais, e um número indeterminado de mortes de soldados russos e ucranianos.