A Câmara Municipal de Santa Maria da Feira lança a 10 de novembro o projeto “Good for Beesness”, que visa incentivar a criação de áreas florais em empresas para atrair abelhas e outros insetos necessários à polinização urbana.
A medida dessa autarquia do distrito de Aveiro parte da consciência de que o cultivo mundial de alimentos depende de processos polinizadores que estão cada vez mais ameaçados devido à agricultura intensiva, ao uso de pesticidas, à poluição e às alterações climáticas.
A designação do programa joga com a sonoridade da palavra inglesa “bees/abelhas” e a sua semelhança homófona com o início do termo “business/negócio ou empresa”, procurando assim transmitir a ideia de que as medidas propostas são “boas para as abelhas e para o negócio”.
Fonte oficial da autarquia justifica à Lusa a estratégia que se destina tanto a entidades com vastas áreas de espaço exterior como a microempresas: “Qualquer que seja a sua dimensão, a responsabilidade ambiental das empresas já não é uma opção – é uma inevitabilidade. O consumidor está cada vez mais atento a estas questões quando faz as suas escolhas e, como uma empresa que não tem sensibilidade ambiental está a perder competitividade para outras mais atentas, nós propomo-nos ajudar na adaptação necessária”.
O projeto vai ser apresentado no centro de congressos Europarque, num painel específico em que o Fórum BizFeira dará a conhecer experiências idênticas de responsabilidade ambiental já levadas a cabo por empresas locais como a Corticeira Amorim e o parque logístico VGP, e também pela marca de soluções com energias renováveis Triple Watt, com sede em Viseu.
No caso da Amorim, a sua intervenção ambiental tem sido na área da conservação do montado, do qual extrai a matéria-prima para a sua atividade, e passa por fomentar novas plantações e apoiar investigação científica nessa área, garantindo uma produção de sobreiro mais adaptada aos emergentes cenários climáticos e a novas pragas e doenças.
A multinacional VGP, por sua vez, instalou na cobertura do parque que gere em Lliçà d’Amunt, em Espanha, um conjunto de colmeias e jardins que constituem um pequeno ecossistema natural propício à proliferação das abelhas na localidade. O mel aí produzido é para distribuir pelas instituições de cariz social da região.
Quanto à Triple Watt, já desenvolveu atividades de preservação da natureza com a Associação de Conservação do Habitat do Lobo Ibérico e, agora que se prepara para instalar centros de produção de energia solar na Feira, está a conceber para essas estruturas projetos de polinização que rentabilizem as áreas não ocupadas por módulos fotovoltaicos.
Ainda no mesmo contexto da polinização urbana, a secção do Fórum BizFeira dedicada ao tema dará a conhecer a Pollinet, “rede colaborativa para a avaliação, conservação e valorização dos polinizadores em Portugal”, e a consultora Natural Business Intelligence, que acompanha processos de certificação como o BREEAM para validar internacionalmente o grau de sustentabilidade ambiental de edifícios.
O público poderá ainda inteirar-se com a consultora 2GoOut sobre “alguns dos apoios e incentivos financeiros disponíveis para projetos empresariais nas áreas da conservação da natureza e da biodiversidade”, e ouvir a especialista Deborah Post, que implementou na Holanda o projeto “Honey Highway /Autoestrada do Mel”, para aumentar a biodiversidade em bermas de estradas, diques, parques industriais e terrenos baldios.
Para a já referida fonte da câmara municipal, o dia 10 de novembro vai assim reunir comunidade científica, especialistas financeiros e agentes empresariais, institucionais e cívicos em torno do mesmo projeto, constituindo “o ponto de partida para uma experiência partilhada de responsabilidade ambiental comunitária”.
Uma vez reunidas informações como “que sementeiras usar para atrair abelhas, que produtos aplicar na manutenção desses espaços verdes e como obter verbas para estas ações ambientais”, a autarquia disponibilizará aos interessados um manual de boas-práticas sobre polinização urbana e ainda dados técnicos para a boa execução dos projetos – que “não são caros, não exigem grandes áreas físicas e podem trazer retornos reais e efetivos para todos”.