Os efeitos da seca e das doenças na produção de castanha em Trás-os-Montes estão a fazer-se sentir na indústria da transformação de castanha, com a principal fábrica da região a registar um quarto do movimento habitual.
A Sortegel instalada em Bragança é considerada uma das unidades de referência a nível europeu na transformação e exportação de castanha e, em plena campanha, este ano só ainda rececionou 300 toneladas, quando no ano anterior, em igual período, o número foi de 1.300 toneladas.
Os dados foram avançados hoje à Lusa pelo administrador, Alcino Pires, durante uma visita da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, a esta unidade da região transmontana, que é a maior produtora portuguesa de castanha.
Este é apontado como “um ano completamente atípico” pelo administrador da empresa que exporta para todo o mundo, desde o Canadá ao Japão, e que antecipa uma “campanha difícil para todos os transformadores portugueses, quer pela falta de produto, quer pelo tipo de produto que existe”.
O principal problema apontado à seca, segundo disse, “prende-se com a falta de quantidades” de castanha, mas “há outros, como a vespa-das-galhas-do-castanheiro”, que, cumulativamente, levaram a que haja “uma redução enorme na produção”.
Com um investimento “brutal” efetuado na empresa nos últimos anos, não havendo produto para laborar, a unidade de Bragança está a apostar noutras alternativas com produtos da região, como a amêndoa, frutos silvestres e o morango.
“Temos 140 colaboradores que temos que ocupar durante um ano”, realçou.
A castanha é a que tem maior peso nesta unidade que, apesar deste ano atípico, garante que não vai faltar para dar resposta às encomendas e clientes, graças à campanha do ano anterior, que foi de quantidade.
A unidade trabalha anualmente uma média de 10 mil toneladas e tem capacidade de armazenamento na ordem das seis mil toneladas.
Vende para os mercados nacional e internacional, sobretudo, castanha congelada e transformada e tem desenvolvido novos produtos como um snack de castanha pré-cozido.
O administrador adiantou que vão aproveitar a diminuição de quantidade desta campanha para se dedicarem ao desenvolvimento de novos produtos, como purés, e aumentar o armazenamento de frio para suster as consequências de anos como o atual.
O administrador nota que a castanha que tem aparecido até à data, nesta campanha, embora em menor quantidade, apresenta um tamanho acima da média, devido às chuvas na parte final da maturação, o que leva à valorização e a que as consequências negativas não sejam tão acentuadas no mercado em fresco.
Ainda assim, observou que “há uma quantidade elevada que é rejeitada devido às podridões”, um problema que “já vem a acontecer nos últimos anos”.
O problema é atribuído a “um fundo que está associado à vespa-das-galhas-do-castanheiro, que já fez mossa nos últimos anos em Itália e está a fazer em Portugal”.
Segundo disse, é “muito difícil de combater, porque a solução que tinha alguma eficácia era à base de produtos que vão ser retirados do mercado a partir de agosto de 2023”, na sequência das normas comunitárias contra os pesticidas.
A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, confirmou à Lusa que o que lhe tem chegado do setor é que “pode haver uma redução até 50%” na produção de castanha.
“Mas a esta altura ainda não se conhece bem a dimensão da redução, atendendo a que a produção está atrasada”, ressalvou, acrescentando que quer acreditar que “o produtor receba um valor mais alto e a perspetiva é de que a produção, mesmo que menor, é de excelente qualidade”.
A governante lembrou que nesta região está a ser financiado o combate à vespa-das-galhas-do-castanheiro, com um parasitóide, “que tem resultados efetivamente na melhoria das condições, sem ter necessidade de usar fitofármacos”.
Destacou também que a produção de castanha e os soutos são para o Governo “fundamentais do ponto de vista de ocupação do território” e que “está aberto um aviso com 10 milhões de euros para estimular” a plantação de castanheiro e outras espécies autóctones nacionais.