Milhares de pessoas concentraram-se hoje nos arredores da localidade de Sainte Soline, no centro de França, para protestar contra o projeto de um reservatório de irrigação, desafiando a proibição de manifestação decretada pela Prefeitura local para evitar altercações.
A prefeita do departamento de Deux-Sèvres, Emmanuelle Dubée, denunciou aos ‘media’ as intenções “violentas” de grupos de manifestantes e avisou que não permitiria que se aproximassem das obras do reservatório.
Neste sentido, determinou a proibição, hoje e domingo, de qualquer manifestação em Sainte Soline, situada cerca de 50 quilómetros a leste da cidade de Niort, tendo esta decisão sido validada pelo Tribunal Administrativo.
Dubée enfatizou que, no passado, este tipo de manifestações degenerou em incidentes.
A responsável da prefeitura, que mobilizou 1.500 agentes policiais apoiados por helicópteros para lidar com a concentração – convocada, entre outros, por movimentos ambientalistas e pelo sindicato agrícola Confederação Camponesa – advertiu, em comunicado, que os manifestantes arriscam a uma multa de 135 euros.
Os organizadores, por sua vez, podem ser condenados a penas de prisão de até seis meses e a multas de até 7.500 euros.
O motivo do protesto é o plano de construção de um reservatório para irrigação que seria abastecido com água recolhida durante o inverno para, segundo os seus promotores, evitar ter de o fazer no verão, quando este recurso é mais escasso.
Na verdade, este é um de 16 reservatórios cuja construção está prevista, com uma capacidade de até 650 mil metros cúbicos cada (equivalente a 250 piscinas olímpicas), para abastecer as explorações de cerca de 400 agricultores da região.
Um estudo de um organismo oficial estimou que, com base num período de referência entre 2000 e 2011, o projeto significaria uma redução do caudal dos cursos de água em 1% no inverno, enquanto no verão aumentariam entre 5% e 6%.
Contudo, o porta-voz do sindicato agrícola Confederação Camponesa, Nicolas Gorod, questionou esses resultados e denunciou que este tipo de projeto “beneficia uma minoria de agricultores” e pressupõe “uma reserva de água” por essa minoria.
“Está a ser criado um modelo agrícola para 10%, no máximo”, disse Gorod à rádio France Info. Sem negar a relevância de recorrer à irrigação para certas culturas usadas na produção de alimentos para a população francesa, o responsável rejeitou, contudo, que esta seja utilizada “para o agronegócio” e para a exportação.
Nicolas Gorod disse ainda que a Confederação Camponesa assume a sua posição de contornar a proibição da Prefeitura, por considerar que é a única forma de a sua voz ser ouvida, defendendo que “o Governo deve reabrir o diálogo”.
Por sua vez, o ministro da Transição Ecológica, Christophe Béchu, salientou que este projeto foi objeto de um plano “assinado por todos há quatro anos” após uma longa consulta na área.
Numa entrevista à rádio France Inter, Béchu lembrou a seca que metade das regiões do país continuam a enfrentar em pleno outono e defendeu que, nestas condições, “são necessárias alternativas para continuar a alimentar os franceses”.
Já o eurodeputado ambientalista Yannick Jadot, candidato dos Verdes nas eleições presidenciais francesas da primavera, explicou que estava em Sainte Soline para pedir ao chefe de Estado, Emmanuel Macron, que impeça “este projeto aberrante”, tal como já pôs fim, em 2018, ao projeto do aeroporto que ia ser construído em Notre Dame des Landes, perto de Nantes.