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ANIPLA Entrevista | António de Sousa, Presidente da Companhia das Lezírias

Como avalia o papel e o sucesso da ANIPLA enquanto organização que defende os interesses do setor e da população, desde o seu nascimento até hoje? Qual a grande mudança que destacaria no espectro da atividade agrícola, nestes 30 anos que passaram?

A Companhia das Lezírias (CL), enquanto maior exploração agropecuária e florestal existente em Portugal, com quase 20.00 hectares de diversas culturas agrícolas, pastagem e reserva natural, com quase dois séculos de existência, pretende continuar a ser uma referência no seu setor ao promover continuamente a inovação e as melhores práticas operacionais, com visão estratégica. Dito de outro modo, a CL procura sempre adotar as melhores práticas de sustentabilidade em toda a sua amplitude, ou seja, abarcando as vertentes não só económica, mas também social e ambiental. É precisamente nesta última vertente que mantemos uma boa relação com a ANIPLA e com a qual assinámos, em 2016, um protocolo de colaboração técnica, no domínio da utilização de produtos fitofarmacêuticos, promovendo a divulgação das melhores práticas referentes à utilização segura desses produtos.

Naturalmente, conforme seria de esperar, o referido protocolo tem funcionado muito bem e a ANIPLA, enquanto Associação Nacional de Indústrias para a Proteção das Plantas, tem cumprido muito bem o seu papel de promotor, divulgador e apoiante acérrimo da utilização segura e eficaz dos produtos fitofarmacêuticos, seguindo os mais exigentes critérios de segurança para o Homem e para o Ambiente.

Em suma, dado que a ANIPLA, na nossa perspetiva, tem cumprido muito bem o seu papel, nas mais diversas vertentes da sua missão, não temos dúvidas do seu sucesso na defesa dos interesses do setor e da população. Tal como a CL, consideramos a ANIPLA, pela sua atuação, um indutor de sustentabilidade ambiental, conceito e prática muito acarinhados na CL. Tudo isto porque estamos convictos que se não mudarmos os comportamentos em relação ao ambiente, não teremos futuro. Como a CL e a ANIPLA encaram esta temática com muita seriedade, então será de perspetivar uma colaboração estreita por muitos anos, em prol de uma agricultura mais sustentável.

Quanto à grande mudança que destacaria na atividade agrícola nos últimos 30 anos, ela prende-se com o trinómio “desenvolvimento tecnológico – capacitação – ganhos de produtividade”, Naturalmente que no centro de tudo isto estará aquele que consideramos ser o fator produtivo do século XXI, o Conhecimento. Ou se trata bem este fator, ou tudo poderá ficar comprometido no futuro.

Como avalia o impacto da tecnologia e novas técnicas de produção no setor agrícola e, concretamente, na forma como hoje nos alimentamos? Que mitos são necessários desfazer?

Produzir alimentos de forma mais eficiente, eficaz e saudável é a chave para responder a uma população mundial que cresce exponencialmente. Se a tecnologia está na base do desenvolvimento agrícola e industrial das últimas décadas, não tenho dúvidas em acrescentar que ela será ainda mais importante no futuro próximo. A revolução digital, a inteligência artificial e a robótica são as bases de desenvolvimento de uma necessária agricultura de precisão que possibilitará importantes ganhos de produtividade, poupando recursos.

Hoje é possível conciliar produção acrescida com responsabilidade ambiental. Hoje é perfeitamente possível conciliar competitividade agrícola acrescida com gestão eficiente da água, ou seja, é possível poupar água e obter maior produção. Hoje é também possível conciliar a utilização (responsável) de produtos fitossanitários com a obtenção de alimentos mais saudáveis. Hoje também é possível conciliar a produtividade agrícola e a promoção da biodiversidade. Em suma, o desenvolvimento tecnológico veio derrubar muitos mitos, sendo atualmente perfeitamente possível conciliar proteção do ambiente, qualidade de vida e alimentação saudável, com uma agricultura competitiva. Assim se saiba utilizar o conhecimento tecnológico à disposição, para o desenvolvimento da denominada agricultura inteligente.

A SMART FARM foi a primeira quinta inteligente em território nacional com a missão de ser um espaço de demonstração de boas práticas agrícolas. Como receberam esta ideia aquando da sua formação? Considera que o projeto superou as expetativas? Podemos afirmar que, pelo seu papel junto dos profissionais e da sociedade em geral, tem sido um contributo de sucesso para contrariar as grandes doses de desinformação e fake-news sobre a atividade agrícola?

Como sabemos o protocolo de colaboração técnica entre a CL e a ANIPLA que deu origem à SMART FARM, foi assinado em abril de 2016. Até hoje ele foi continuamente prorrogado, o que é um sinal de boa implementação. Efetivamente, quando este Conselho de Administração chegou, em junho de 2018, inteirou-se do projeto, do que já tinha sido feito e o que previa para o futuro. Pelo que constatámos e perante o seu potencial futuro, não tivemos dúvidas em o abraçar, incutindo-lhe até novas dinâmicas e desenvolvimento, como é o caso mais recente da aceitação da proposta de melhoramento da Estação de Biodiversidade, por razões de melhor adequação do espaço ao que se pretende e também por razões de facilidade logística aquando da realização das diversas visitas. Os melhoramentos visam dar a conhecer melhor a relação entre a Agricultura e a Biodiversidade, demonstrando a forma como interagem para uma sustentabilidade agrícola e ambiental acrescidas.

Pela dinâmica conseguida, não tenho dúvidas em classificar como de sucesso o projeto SMART FARM, tendo até superado as nossas expetativas. Naturalmente, essa dinâmica consubstanciada em ações de demonstração, de formação e de sensibilização, no contexto da produção agrícola sustentável, tem contribuído como contrapeso a campanhas de desinformação sobre a temática da aplicação de produtos fitofarmacêuticos.

Para si, qual o maior desafio que o setor agrícola enfrenta atualmente? E em que medida a ANIPLA poderá reforçar o seu contributo para os próximos 30 anos?

A agricultura depara-se hoje com muitos e enormes desafios. Já referi alguns na resposta que dei à segunda pergunta sobre os mitos que importa desfazer. No entanto, de entre os maiores desafios, destacaria ainda os seguintes: (i) Capacidade inovadora, tendo por base o desígnio da sustentabilidade agrícola e sua articulação com o conhecimento especializado e a tecnologia; (ii) Gestão eficiente de recursos fundamentais (água, solo, biodiversidade) e produção agrícola competitiva, para dar resposta a necessidades de alimentação (saudável) de uma população mundial que cresce exponencialmente; (iii) Investigação aplicada, com foco na sustentabilidade não só ambiental, mas também social e económica; (iv) Mobilização da nova geração de jovens empresários agrícolas, melhorando as suas capacidades de pensamento estratégico e de atração e retenção de talento para as suas empresas; (v) Mitigação das alterações climáticas e preparação para a transição agro energética.

A forma como conseguirmos suplantar estes desafios terá impactos decisivos sobre a competitividade e a sustentabilidade da nossa agricultura, induzindo maior ou menor confiança nos diversos atores.
A ANIPLA poderá e deverá posicionar-se em relação a estes desafios e traçar uma Estratégia específica de atuação, tendo em conta, naturalmente, a sua missão.

António de Sousa, Presidente da Companhia das Lezírias

O artigo foi publicado originalmente em Fitosíntese.


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