A lacuna entre os fundos alocados para reduzir a exposição dos países em desenvolvimento aos impactos do aquecimento global “continua a aumentar” e as necessidades reais e cada vez maiores, alertou hoje a ONU num relatório sobre o clima.
Segundo o documento, a adaptação das medidas para reduzir a exposição e vulnerabilidade de países e populações aos efeitos das mudanças climáticas é um “ponto importante” do acordo de Paris destinado a limitar o aquecimento global, que insiste, em particular, nas necessidades de ajuda nesta área aos países em desenvolvimento, muitas vezes os mais expostos.
De acordo com o novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), as necessidades anuais de adaptação são agora estimadas entre 160.000 e 340.000 milhões de dólares até 2030 (entre 164.300 e 349.130 milhões de euros), e entre 315.000 e 565.000 milhões até 2050 (entre 323.460 e 580.180 milhões de euros).
Os valores foram revistos em alta relativamente à estimativa anterior publicada há um ano.
Os riscos climáticos estão a “aumentar”, sublinha o PNUMA, lembrando a atual seca no Corno de África ou as inundações na Ásia.
Nesse sentido, os autores do estudo pedem uma “forte vontade política” em prol da aprovação do montante necessário na COP27, que começa no próximo domingo na estância turística de Sharm el-Sheikh, no Egito.
“Os fluxos financeiros internacionais para adaptação às mudanças climáticas direcionados aos países em desenvolvimento são cinco a dez vezes menores do que as necessidades estimadas, e a lacuna continua aumentando”, lamenta a ONU.
Os fluxos atingiram assim apenas 29.000 milhões de dólares (29.780 milhões de euros) em 2020, segundo relatórios dos países doadores, um aumento de 4% em relação a 2019.
Os países ricos prometeram desde 2009 um valor de 100.000 milhões de dólares (102.690 milhões de euros) em ajuda anual – não apenas para a adaptação, mas também para a mitigação, ou seja, a redução de emissões, que continua a captar a maior parte do financiamento.
Mas, lamenta, faltam ainda cerca de 17.000 milhões de dólares (17.460 milhões de euros) desse total.
Para acompanhar a adaptação, a COP26, realizada em 2021 em Glasgow, convocou os países desenvolvidos a aumentar pelo menos para o dobro os recursos destinados até 2025.
“É necessária uma aceleração significativa” para atingir essa meta, aponta o PNUMA.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou “inaceitável” que as populações e comunidades mais vulneráveis “estejam a pagar o preço” pela falta de financiamento.
Na tentativa de preencher essa lacuna, Guterres anunciou a criação de uma nova ferramenta destinada a acelerar o financiamento de projetos de adaptação, para “desbloquear” esse financiamento específico.
“O modelo atual para fornecer apoio à adaptação está ultrapassado”, comentou um alto funcionário da ONU.
Este novo “acelerador” visa fazer com que as finanças públicas e privadas trabalhem em conjunto “em torno das prioridades identificadas por país”, para transformar essas “prioridades num plano de investimento e num ‘pipeline’ de projetos suscetíveis de trazer dinheiro”, acrescentou, especificando que está em curso nesse sentido um “projeto-piloto” em vários países, como o Ruanda.