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À procura de soluções para a gestão no minifúndio

“A floresta nacional está cada vez mais abandonada, a necessitar desesperadamente de políticas sustentadas no tempo, sem conotações ideológicas, que permitam combater a falência do mundo rural, a falta de escala, a ausência de gestão, o elevado risco de incêndio ou a perda de produtividade”, afirmou João Lé, administrador executivo da The Navigator Company, na abertura do Encontro Anual Produtores Florestais, que decorreu a 27 de outubro, no Grande Hotel do Luso.

Estava lançado o mote para a discussão de um tema importante para a sustentabilidade e a viabilidade económica da floresta portuguesa, caracterizada pela prevalência da pequena propriedade privada: “Maior rentabilidade e melhor gestão em minifúndio.” Como relembrou o responsável da Navigator, “apesar da relevância do setor florestal nacional, e do potencial produtivo florestal, Portugal é deficitário em matéria prima, importando anualmente mais de 2 milhões de m3 de madeira de eucalipto, sobretudo extraibérica, que poderia e deveria ser produzida no nosso país.

Arlindo Cunha, proprietário florestal e ex ministro da Agricultura, lamentou que nos últimos “dez a 15 anos as políticas públicas tenham estado demasiado focadas no conservacionismo e pouco na produção, sem benefício para o conjunto da floresta”.

Na primeira apresentação, “Gestão Agregada: o futuro da gestão florestal no minifúndio”, José Francisco Silva presidente da AFBV – Associação Florestal do Baixo Vouga, avançou com a solução encontrada para minorar os riscos de abandono e incêndio e aumentar a rentabilidade: as Áreas Florestais Agrupadas da Panasqueira e do Fusil. “O Núcleo de Gestão Florestal Beco-Salgueiro é a nossa montra tecnológica. Mostra uma nova forma administrativa de gerir a floresta em 416 ha divididos por 316 propriedades com 148 proprietários estimados e uma média de 1,4 ha cada”, avançou. Alguns dos objetivos passam por garantir a gestão florestal em 80% da área do projeto, melhorar em mais de 40% a produtividade média do eucaliptal, que atualmente produz apenas 12m3/ha/ano, e assegurar uma poupança de 20% nos custos de empreitadas de trabalhos.

Outra solução foi apresentada por João Baeta Henriques, membro fundador da primeira Área Integrada de Gestão da Paisagem (AIGP) de iniciativa e gestão iniciativa, em Álvares, constituída em 2020, na sequência dos incêndios de 2017. Com 700 habitantes, esta freguesia com 10 mil hectares florestais tem 3 mil proprietários florestais e 15 mil prédios com uma dimensão média de 0,67 há, sendo gerida apenas 25% da área. A “matriz de transformação”, nas palavras do responsável, passa por expandir significativamente as áreas sob gestão ativa e conceber Unidades de Intervenção com dimensão operacional económica. Com vista ao autofinanciamento, está prevista a criação de uma Sociedade de Investimento e Gestão Agroflorestal.

Na mesa redonda sobre “Gestão em Minifúndio”, Jacinto Diamantino, chefe de divisão das Áreas Classificadas do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, em representação de Fátima Reis, diretora regional do Centro, concordou que agrupar as áreas florestais é uma oportunidade para resolver problemas do território na coexistência entre conservação e a produção, porque permite gestão e planeamento.

Já Luís Filipe Rodrigues, vice-presidente da Câmara Municipal de Mortágua, reforçou a importância de todos os agentes da floresta se envolverem na promoção e proteção da floresta nacional. A autarquia que representa é, por exemplo, responsável pelo investimento na rede viária florestal, na criação de pontos de água e na vigilância florestal, e tem contado com apoios da indústria, como é o caso da Associação da Indústria Papeleira (antiga CELPA, agora redesignada Biond, Forest Fibers from Portugal) na recuperação de zonas ardidas.

O diretor-geral da Biond, Francisco Gomes da Silva. confirmou que a associação promove inúmeros “projetos em territórios de minifúndio” e que “nos últimos 5 anos interveio em 60 mil hectares de pequenos proprietários”, através das autarquias, das associações e dos prestadores de serviços. E nesta proximidade ao mundo rural, o quarto convidado da mesa redonda –conduzida por José Luís Carvalho, responsável de Inovação e Desenvolvimento Florestal na Navigator –, o proprietário Arlindo Cunha, ex ministro da Agricultura, lamentou que nos últimos “dez a 15 anos as políticas públicas tenham estado demasiado focadas no conservacionismo e pouco na produção, sem benefício para o conjunto da floresta”, e defende que “parte substancial dos fundos do FEADER, para a agricultura e as florestas, seja transformada num programa nacional que depois tenha técnicos em todo o território nacional para ajudar os produtores”.

Eficiência e rentabilidade

A questão da viabilidade financeira da atividade florestal com gestão foi também abordada. Nuno Borralho, responsável pela Unidade de Investigação Florestal do RAIZ, instituto de pesquisa privado pertencente à The Navigator Company, apresentou as vantagens do investimento em planta melhorada. O custo da planta acresce menos de 200 euros por hectare aos custos de instalação, e o ganho (superior a 40% em volume com clones e 25% com semente melhorada) traduz-se em mais 1500 euros/ha de rendimento, comparativamente à planta não melhorada. Paulo Almeida, técnico florestal da Unimadeiras, falou sobre as potencialidades do aproveitamento da biomassa florestal residual, como “valor extra” e como fator de redução do risco de incêndio.

Nas sessões de demonstração realizadas foram ainda apresentadas ferramentas e técnicas eficientes para as operações florestais. Os Viveiros Aliança, da The Navigator Company, ensinaram a plantar estacas de eucalipto por forma a aumentar o seu sucesso. A Bahco demonstrou as suas tesouras elétricas – leves, fáceis de utilizar e seguras – para seleção de varas de eucalipto. A alfaia Fravizel Riper Amontador mostrou no terreno como realiza duas operações de uma só vez: ripagem e gradagem, graças aos seus discos reguláveis que permitem alterar a dimensão do camalhão. E a Navigator exibiu um adubador de dois discos (em vez de pendular) para aplicação localizada em bandas ou generalizada, com tratores de pequena potência ou largura compacta, aptos para pequenas propriedades: o Gaspardo Ciro pode libertar adubo de apenas um lado, em duas bandas ou na totalidade da área até 12 metros, consoante a distância entre filas de árvores, com uma alteração das alhetas.

O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.


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