Fomos à Beira Baixa a pretexto das colheitas desta estação do ano e dos produtos que giram à volta delas. Em destilarias, lagares, medronhais e casas de lavradores vimos tradições ancestrais.
Aproposta era tentadora, inclusive para os menos fãs desta época que forçou o adeus ao Verão, sujeitando-nos aos dias curtos e frescos (este ano, é proibido dizer mal da chuva). O convite desafiava-nos a rumar a Oleiros, no distrito de Castelo Branco, a pretexto dos produtos de Outono e da sua transformação, com direito a usufruir “do aconchego a que a estação obriga” e “com lareira a fazer de companhia ao serão”. Impossível resistir, certo? Seguimos viagem até ao interior, seduzidos pela ideia de ir descobrir como é que se produz a aguardente e as compotas de medronho, o azeite e o cabrito estonado, provar mais umas quantas iguarias e usufruir do sossego da natureza. Pelo meio, ainda arranjámos tempo para fazer marmelada e receber verdadeiras aulas de resiliência, com professores que teimam em não vergar perante a crueldade dos fogos.
A primeira lição é dada por Paulo e Idalina Silva, de 81 e 74 anos, respectivamente, responsáveis pela marca Silvapa. Reformados dos CTT, foram os primeiros produtores do concelho de Oleiros a legalizar a aguardente de medronho, e, apesar de em 2017 terem visto a sua exploração ser devastada pelo fogo, rejeitaram cruzar os braços. Enquanto esperavam que os seus pomares voltassem a dar frutos, recorreram aos medronhos de outros produtores da zona. “Só este ano, passados cinco anos do incêndio, é que temos este medronhal a produzir normalmente”, testemunha Idalina, enquanto nos mostra os quase três hectares de medronhal que a Silvapa tem na localidade de Madeirã, mesmo ao lado da destilaria – a esta propriedade somam mais uns cerca de três hectares noutros pontos do concelho.
A produção deste ano “tem sido bastante boa”, garante o marido, que é quem nos abre a porta da destilaria, desvendando todo o processo que vai desde a apanha do fruto até ao engarrafamento da aguardente, passando pela fermentação e destilação. Com a entrada da mulher para a empresa – Idalina ainda teve que esperar mais alguns anos até chegar à idade da reforma -, Paulo Silva conseguiu aumentar o leque de produtos da marca, passando a produzir, também, licor e compotas de medronho. Vendem para todo o país, e também para alguns pontos do estrangeiro, e o reconhecimento também tem chegado em forma de prémios, uma vez que já conquistaram com algumas distinções.
Orgulhosos do caminho que têm trilhado desde 1993, Paulo e Idalina Silva vão mantendo as portas da Silvapa abertas para quem a quiser visitar. Tanto mais porque há por lá […]