A 27.ª Cimeira do Clima da ONU arranca este domingo, mas o planeta está a aquecer há demasiado tempo. Para Selma Guerreiro, investigadora portuguesa na Universidade de Newcastle, “tem que se deixar de olhar para as alterações climáticas como se fosse algo no futuro”.
Estes são títulos noticiosos de um verão, em Portugal e em diversas partes do mundo, marcado pela seca severa e por vagas de calor, fenómeno cada vez mais frequente.
Neste domingo em que se inicia, no Egito, a 27.ª Conferência das Partes das Nações Unidas (COP27), a Renascença falou com Selma Guerreiro, investigadora da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, especializada em matéria de ondas de calor e secas.
Segundo o mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla inglesa), o Mediterrâneo, incluindo Portugal, será das regiões mais afetadas pelo calor severo e pela escassez de água na Europa.
De acordo com os dados divulgados, suportados pelo trabalho de investigação de Selma Guerreiro, Portugal e Espanha deverão ter secas mais severas até 2050, em comparação com os 50 anos anteriores.
“Mesmo nos modelos [de previsão] mais otimistas, nós chegamos a ter o dobro das secas. Nas mais pessimistas, temos secas, por exemplo, em Faro, que poderão ser até dez vezes piores do que foram no período histórico”, revela a investigadora.
Os efeitos da seca mais severa no sul da Europa, de acordo com dados do IPCC, poderão levar a que mais de um terço da população sinta escassez de água, sob uma projeção de aquecimento global em 2ºC. Esse risco duplicará caso o aquecimento atinja os 3ºC.
Para Selma Guerreiro, a resposta tem de ser imediata e passar pela “valorização da água”. A solução passará não só pela contenção de gastos, a título pessoal ou de atividades como a agricultura, mas também pela gestão inteligente dos recursos hídricos.
“Temos que olhar para as águas subterrâneas e para as águas superficiais, rios e barragens, e ver o que é que podemos usar. Mas grande parte vair ter que ser cortar nos consumos, gastarmos menos água”, salienta.
O IPCC descreve também uma redução do caudal dos rios do Mediterrâneo, entre os 12% e os 15%, assim como já se regista uma queda constante dos níveis de precipitação e da capacidade dos solos em reter a água.
Aliás, a precipitação em Portugal, na época baixa (entre outubro e março), diminuirá mais de 10%, sob um aquecimento global de 3ºC.
“Infelizmente, são coisas que foram previstas. O que eu percebi que iria acontecer era realmente o aumento da época seca. Ou seja, passámos de ter simplesmente um verão seco para termos uma […]