cogumelos

Chegámos aos oito mil milhões. E os fungos vão ajudar a alimentar a humanidade

Somos 8000 milhões de seres humanos e a alimentação é cada vez menos sustentável. Estará a solução nos microorganismos e nas proteínas alternativas? Com menos solo, água e com muito menos animais.

Já somos oito mil milhões de pessoas. Veja o especial interactivo. 8000 milhões de humanos. Das vacinas à II Guerra Mundial, 18 marcos da demografia

O aumento da população foi feito contra as guerras, a fome e as pestes Carne feita em laboratório, leite produzido por microorganismos numa “fermentação de precisão”, proteína de ervilha, peixe de aquacultura, algas, cogumelos, insectos – a forma como nos iremos alimentar no futuro já está aí. Algumas destas práticas são cada vez mais comuns, outras estão ainda a dar os primeiros passos, mas esta terça-feira, 15 de Novembro de 2022, o dia em que atingimos os 8000 milhões de seres humanos no planeta, já conseguimos vislumbrar os caminhos a explorar para conseguirmos alimentar-nos num planeta cujos recursos estão sujeitos a uma pressão cada vez maior.

O relatório da Comissão EAT-Lancet, que propõe uma dieta saudável a partir de um sistema alimentar sustentável, avisa que devemos, até 2050, reduzir o consumo de carne vermelha e de açúcar em mais de 50% e duplicar o consumo de fruta, vegetais, frutos secos e legumes. Se pensarmos em 2100, os desafios são ainda maiores e mais difíceis de imaginar. Estaremos perante um momento de viragem radical? Serão os novos caminhos realmente mais sustentáveis?

O que parece cada vez mais evidente é que o actual sistema alimentar tem falhas graves e precisa de sofrer alterações. Discute-se a necessidade de aumentar a produção de alimentos para uma população em crescimento, mas, ao mesmo tempo, desperdiçamos cerca de 30% da comida que produzimos. Muito do solo fértil do planeta está ocupado por monoculturas que muitas vezes sobrevivem à base de fertilizantes e pesticidas, com sementes com pouca variação genética e, por isso, particularmente vulneráveis a doenças. A somar a isto as dietas de uma grande parte da população mundial são desequilibradas e pouco saudáveis.

Perante este cenário, os debates sobre a transformação do sistema alimentar estão a polarizar-se. De um lado, os defensores de um caminho mais tecnológico, com alimentos feitos em laboratórios, sejam eles carne cultivada a partir de células animais (sem implicar a morte do animal), ou produtos semelhantes às actuais proteínas animais, criados a partir de proteína vegetal.

Do outro lado, os que acreditam que é numa relação mais equilibrada com a natureza que se conseguirá alimentar o mundo e travar a destruição do planeta, promotores de uma nova revolução agrícola, que aposte na agroecologia e na agricultura regenerativa. Mas, mesmo entre este grupo, há quem aposte mais em soluções de base tecnológica para melhorar a performance agrícola, protegendo o ambiente, e quem prefira uma abordagem mais “natural”.

Sabemos já do que o corpo humano precisa para se desenvolver de forma equilibrada e saudável. Sabemos também que as nossas dietas estão muito longe disso. “No actual modelo, há uma percentagem muito elevada da população mundial – em Portugal é de cerca de 60% – que consome mais calorias do que necessita”, diz ao PÚBLICO Pedro Graça, director da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP).

“Ao mesmo tempo que vivemos um problema de escassez alimentar e energética” em certas zonas do mundo, existe também um “excesso de oferta energética, que traz o problema do excesso de peso e da obesidade”. O ideal será conseguirmos alterar este quadro, apostando numa “oferta menos energética e mais densa do ponto de vista nutricional”. E sublinha: “Temos tecnologia para isso.”

Há, nos debates sobre alimentação, uma palavra que tem ocupado um lugar central: proteína. Qual a sua real importância? Numa conferência organizada recentemente pela Jerónimo Martins e intitulada “A alimentação no futuro: evolução ou revolução?”, Pedro Graça explicou que “houve sempre défice de proteína na história da humanidade” e que só “a partir dos anos 70 e 80 é que, no hemisfério norte, [a proteína] começou a ser suficiente para, em média, dar resposta” às necessidades.

É, contudo, importante perceber que “o nosso organismo necessita de quantidades precisas de proteína ao longo do dia” (necessita também de vitaminas, sais minerais, […]

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