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Guiné-Bissau tem de desenvolver produção agrícola e não depender do mercado externo – associações

A Guiné-Bissau tem de desenvolver o setor agrícola e aumentar a produção e não depender do mercado externo para garantir a segurança alimentar, defenderam em declarações à Lusa as associações de importadores e de consumidores.

A ideia é antiga, mas ganhou nova força com a pandemia da covid-19 e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que tem representado para a Guiné-Bissau um aumento dos preços, principalmente dos bens de primeira necessidade.

Dados do Fundo Monetário Internacional indicam que a inflação em 2022 na Guiné-Bissau será superior a 7%.

“Quase 90% do que consumimos importamos e isso tem um impacto negativo na economia guineense e está a dar o que todos estamos a viver neste momento. A guerra na Ucrânia está a ter um impacto muito violento na vida social, económica do guineense”, afirmou Mamadu Jamanca, presidente da Associação Nacional de Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau.

Basta ir aos principais mercados da capital para ver que o arroz, base alimentar dos guineenses, a farinha, o açúcar, o óleo, o sabão e tantos outros preços aumentaram.

O impacto é que o nível da “pobreza aumentou drasticamente” e “há guineenses a dormir com fome”, explicou o presidente da Associação dos Consumidores de Bens e Serviços guineense, Bambo Sanhá.

“A situação dos consumidores guineenses está caótica, tendo em conta a sua debilidade económica e financeira. Isto está relacionado com a pandemia da covid-19 e que veio a ser agravado com a situação da guerra entre a Rússia e a Ucrânia”, disse Bambo Sanhá.

Para Mamadu Jamanca, a solução é fácil e a “Guiné-Bissau não tem de inventar a roda”, apenas “fazer uma cábula” e adaptá-la à realidade do país.

“Podemos inverter este paradigma” de importar quase tudo o que se consome, disse o presidente da Associação de Importadores e de Exportadores, sublinhando que o país tem terras férteis e chuva abundante.

“Nós não estamos a ser honestos, porque felizmente temos soluções para a Guiné-Bissau”, disse Mamadu Jamanca.

Bambo Sanhá também defende que a solução “não é a importação”.

“O Governo tem de mecanizar o setor agrícola e o setor privado deve assumir a sua responsabilidade no setor de produção. O país tem todas as condições para fazer produção local em quantidade e em qualidade, mas temos ausência de boas políticas, de vontade política e de falta de investimento”, disse.

“Isto é lamentável, é triste, um país com capacidade de produzir duas ou três vezes por ano, mas que depende grandemente do mercado externo”, desabafou Bambo Sanhá.

Mamadu Jamanca também deixa uma crítica às políticas de governação, que falharam na sua estratégia.

“Se fosse um país cuidado e estrategicamente gerido e administrado seria a Suíça da costa ocidental africana. Este país tem todas as condições para viver e produzir excedente para exportação”, disse, defendendo que a política do Governo devia subvencionar e injetar dinamismo na produção local.

A Guiné-Bissau importa a maior parte dos bens alimentares, incluindo ovos e leite, que depois é vendido a 1.000 francos cfa o litro (cerca de 1,5 euros), valor que “não é acessível aos guineenses”.

“É uma falha tremenda na estratégia”, disse Mamadu Jamanca.

Segundo os dados da Relatório de Revisão Voluntária, relativos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em 2020 a taxa de pobreza na Guiné-Bissau era de 66,6% da população, que ronda os dois milhões de habitantes.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou em maio passado que a insegurança alimentar no país piorou desde o início do ano devido ao aumento dos preços dos produtos alimentares como consequência da covid-19 e da guerra na Ucrânia.

Segundo o PAM, metade das famílias guineenses não têm capacidade económica para cobrir o cabaz de despesas mínimas, cujo valor ‘per capita’ e por mês foi estimado em cerca de 40 euros.

O ordenado mínimo na Guiné-Bissau é de 50.000 francos cfa (cerca de 75 euros).


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