Os fornecedores queixam-se de venderem o seu produto a um preço substancialmente mais barato do que aquele que é pedido aos clientes dos hipermercados. A inflação explica tudo? “Pode haver conceitos de lucros ilegítimos incorporados em alguns destes produtos”, explica o inpetor-geral da ASAE
Os alimentos são diferentes, mas as queixas de quem é responsável por colocá-los no supermercado assumem uma tendência idêntica. “A discrepância não é 25%. Eles compram um quilo a um euro e depois vejo-o no retalho a 5 ou a 6 euros”, confessa um pescador de Sesimbra. “Vendo um produto a 0,30 cêntimos e depois vendem-no a 2,5 euros”, afirma um produtor de tomates de Benavente. Nenhum deles sabe justificar porque é que das suas mãos à mão do cliente o preço atinge margens tão exponenciais.
A própria Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE) assume que este processo “é algo relativamente difuso” e que tem de ser analisado para além das questões inflacionistas. “Pode haver conceitos de lucros ilegítimos incorporados em alguns destes produtos, é isso que se tem de dissecar e ver”, afirma Pedro Portugal Gaspar, inspetor-geral da ASAE, à CNN Portugal.
Para essa análise, importa verificar que existe “mais ou menos uma certa prática de que ao longo da cadeia as margens de lucro situem-se entre os 10 e os 20%”, acrescenta Pedro Portugal Gaspar, sublinhando que, se em “alguma das fases dispara para 30 ou 35%” é “questionável se isso é permitido” ou se não se está perante a “questão do lucro ilegítimo”. “É um esforço que a ASAE terá que identificar e comunicar ao Ministério Público se estão reunidos esses supostos”.
Por outro lado, Portugal sendo uma economia aberta e livre não tem qualquer tabelamento relativamente às margens de lucro, a menos que o país viva alturas excecionais, como durante a pandemia, em que foram impostas limitações às receitas com máscaras e álcool gel, por exemplo. Isto permite, afirma o responsável máximo pela ASAE, “que a lei da oferta e da procura funcione em campo aberto”.
No fundo, acrescenta, a questão nasce de um problema “mais antigo e transversal” que se prende com a da formulação dos preços. “Podemos ter produtores que fornecem seis ou sete tipos de produtos diferentes para um vendedor final de uma grande superfície” e isso pode levar a que “alguns preços entrem em compensação”.
Pescadores vendem mais barato na doca, mas peixe chega-nos mais caro
Simão é pescador em Sesimbra desde 2009 e vê quase diariamente o seu peixe a ser vendido na lota a um preço substancialmente […]