Serra da Estrela exposta à erosão e à espera das medidas de emergência

Apoios aos pequenos agricultores não estão a chegar. Maior parte da madeira ardida continua à espera de ser vendida. Governo assinou contratos em Outubro, mas medidas demoram a chegar ao terreno

Cinco meses após um incêndio ter destruído um quarto da área do Parque Natural da Serra da Estrela, tardam em chegar ao terreno as medidas de emergência que pretendem evitar a perda dos solos, que continuam expostos à erosão das águas do Inverno.

As populações não estão melhores. Os apoios aos pequenos agricultores que tiveram prejuízos não estão a chegar. A burocracia é muita, os prazos de candidatura são apertados e não são feitos adiantamentos, o que implica que famílias, muitas com poucos rendimentos, tenham capacidade para avançar com os pagamentos sem saberem quando vão ser reembolsadas.

A descrição é de Manuel Franco, da associação ambientalista Guardiões da Serra da Estrela, que critica: “O que é exigido para pedir um apoio de 150 mil euros é o mesmo que se pede a quem se candidata a um de 1500 euros. Não faz sentido.” As verbas são para recuperar palheiros que arderam ou vedações que foram queimadas.

O presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, queixa-se do mesmo e lembra que em 2017, nos incêndios na região de Pedrógão, se adoptou um modelo simplificado para pequenos apoios. “Não pedimos nada de novo”, sublinha o autarca. Sobre as críticas, o Ministério da Agricultura responde apenas que nos concelhos afectados pelo incêndio pagou apoios à alimentação de animais no valor de quase 250 mil euros, distribuídos em duas fases.

Sara Boléo, que trabalha com os Guardiões da Serra, está a tentar resolver um problema que também é consequência dos fogos. Quando atende o telefone, avisa logo que tem o tempo contado. Está a coordenar a procura de um rebanho com 21 cabras, que desapareceu uns dias antes.

“Conseguimos que um voluntário fosse à procura dos animais com um drone e encontrou oito cabras que estavam desaparecidas desde Dezembro”, explica. Não são as mesmas, mas já foi útil. “Toda a área à volta das quintas ardeu. Até já nasceu alguma coisa com as chuvas, mas as cabras preferem vegetação mais densa”, justifica.

Madeira por vender

Também a maior parte da madeira ardida continua na serra à espera de ser vendida. E, neste capítulo, frisa Manuel Franco, a tentativa derradeira de recuperar uma pequena parte do valor perdido pode ainda trazer mais problemas do que vantagens.

As máquinas pesadas que levam as árvores queimadas, cortadas rentes ao solo, deixam as encostas despidas e com faixas a descoberto. As marcas verticais que camiões e tractores pesados deixam no terreno ajudam as águas a ganharem velocidade e força, levando tudo à frente. A erosão ganha terreno, por vezes abrindo autênticas crateras que expõem as feridas da serra.

O Governo assinou em Outubro contratos com autarquias, entidades gestoras de baldios (terrenos comunitários) e associações locais para estas concretizarem as medidas de emergência […]

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