[…] Será, pois, um ano de herbicidas, com o famoso glifosato à cabeça. Mesmo caros, os herbicidas continuam a ser um recurso indispensável para muitos agricultores. Só há uma forma de acabar com o flagelo dos pesticidas na agricultura, uma bomba-relógio para a saúde humana, apenas tolerável porque a fome é ainda pior: pagando melhor a quem nos alimenta, seja pela via do preço, seja pelo reforço das subvenções públicas.
Em França, o Ministério da Agricultura conseguiu negociar com a Comissão Europeia a atribuição de benefícios fiscais relativos aos anos de 2022 e 2023 e de uma ajuda de 2500 euros aos agricultores que renunciarem à utilização de pesticidas que contenham glifosato, o herbicida de amplo alcance mais usado na viticultura e que inúmeros estudos asseguram ser carcinogénico. É um bom primeiro passo, que a região de Champanhe também quer seguir, impondo mesmo o abandono dos herbicidas como condição para poder engarrafar com o selo da denominação de origem a partir de 2025.
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Por cá, não se ouve um só enólogo ou produtor a defender medidas semelhantes, como se não tivéssemos nenhum problema com o glifosato e os herbicidas em geral. Em Portugal são vendidas por ano mais de 1600 toneladas de glifosato, o que só por si devia ser um sinal de alerta. Um estudo realizado em 2021 pela Plataforma Transgénicos Fora, em colaboração com a Detox Project, através de análises à urina de 26 voluntários, mostrou que em todas elas havia vestígios de glifosato e numa concentração muito alta, 26,2 nanogramas por mililitro, quando o limite máximo autorizado para a água de consumo é de 0,1 nanogramas por mililitro.
Perante as evidências, o Ministério da Agricultura limita-se ao seu querido mantra, “monotorizar”, prosseguindo no caminho da completa irrelevância. Nisso, a pouco exemplar CAP (nos interesses pouco gerais que defende), tem razão: o país já deixou há muito de ter uma ministra da Agricultura. A actual, que garante não saber ao que ia quando convidou Carla Alves para sua secretária de Estado, como se alguém acreditasse, é mero corpo presente, um adorno para cumprir a quota feminina no Governo.
Quando alertei para o uso excessivo de herbicidas nas vinhas do Pico (no Douro e noutras regiões, o problema ainda […]