Mindelo, Cabo Verde, 24 jan 2023 (Lusa) – O ministro da Agricultura cabo-verdiano anunciou hoje uma redução de 11% no preço da farinha de trigo, com efeitos imediatos e implicações esperadas no custo do pão, após fortes subidas provocadas pelo fim da subsidiação estatal.
“Fruto desta articulação e cooperação com a Moave, conseguimos fazer baixar o preço do saco da farinha de trigo de 4.600 para 4.100 escudos [41,70 para 37,20 euros] e com desconto para a indústria panificadora. Um saco de 50 quilogramas vai sair por 3.936 escudos [35,70 euros]”, anunciou Gilberto Silva, após reunir-se no Mindelo, São Vicente, com a administração da única empresa que importa trigo para o arquipélago.
O governante explicou tratar-se de um encontro que resultou do processo de negociações do Governo em busca de soluções para a escalada de preços devido à conjuntura internacional, nomeadamente a guerra na Ucrânia, que fez disparar o preço do pão, que passou a custar 64% mais caro nos últimos dias.
“Esta visita vem finalizar todo um processo de negociação e de articulação institucional entre alguns departamentos do Governo, nomeadamente o ministério da Agricultura e do Ambiente que coordena a política da segurança alimentar e nutricional em Cabo Verde, o Ministério do Comércio e o Ministério das Finanças. Também com a boa colaboração da Moave, que faz parte do sistema alimentar cabo-verdiano, na medida em que produz farinha de trigo, com base na moagem do trigo em grão, importado, a única empresa em Cabo Verde que faz a importação do trigo a granel”, acrescentou.
Desde o início deste ano que o Governo deixou de subsidiar a importação de trigo, alegando os avultados custos com a medida nos últimos meses, o que fez disparar o preço do farinha de trigo, com o saco de 50 quilogramas a passar de 2.890 escudos (26,20 euros) para 4.600 escudos (41,70 euros), levando as padarias a anunciar aumentos no pão.
O ministro considerou que esta articulação com a empresa fará baixar o preço da farinha de trigo para valores aceitáveis, tendo em conta a conjuntura internacional.
“Estamos a verificar uma escalada de preço a nível mundial em que todos os países estão a sofrer com isto. É evidente que verificamos também uma tendência ao nível internacional para alguma baixa, mas isso ainda não se verifica na prática como gostaríamos que acontecesse no nosso país. Por isso o Governo vai manter-se atento à situação, vamos continuar a analisar como sempre dissemos, e vamos poder intervir onde sempre for necessário para que possamos assegurar que o sistema alimentar no seu todo seja resiliente e possamos fazer face a este choque internacional”, disse ainda Gilberto Silva.
Na semana passada, numa ronda pelas mercearias e padarias do Mindelo, ilha de São Vicente, a segunda maior cidade do país, a Lusa constatou que, um pouco à semelhança do que se vai verificando no resto do arquipélago, o preço da carcaça de pão disparou de 18 para 28 escudos (16 para 25 cêntimos de euro).
Apesar da descida no preço de tabela da farinha de trigo, Gilberto Silva admitiu que a sua implicação no preço do pão irá depender do bom senso das padarias, já que o Governo não regula o preço de produtos da panificação em Cabo Verde.
“Isto representa uma vantagem para as famílias porque deve fazer baixar o preço do pão carcaça, que é um produto de base, mas não depende da Moave nem do Governo. No país não regulamos o preço do pão, mas sim o peso da carcaça, portanto, com isto, haverá condições para que não haja de facto uma escalada no preço do pão e acima de tudo que haja a nível de concorrência para a indústria panificadora e que com base na concorrência, possamos ter melhores preços”, explicou ainda.
Cabo Verde recupera de uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística – setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago – desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19. Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 impulsionado pela retoma da procura turística.
Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, nomeadamente a escalada de preços, o Governo baixou em junho a previsão de crescimento de 6% para 4%, que, entretanto, voltou a rever, para mais de 8% e já no final do ano para 10 a 15%.