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Inflação para lá da guerra. Como as alterações climáticas podem fazer aumentar os preços dos alimentos

Secas prolongadas, chuvas intensas, cadeias de abastecimento interrompidas e agricultores envelhecidos põem em causa a segurança alimentar. Podem as alterações climáticas fazer a inflação prolongar-se no tempo?

Desde 1961, as alterações climáticas reduziram a produtividade agrícola global em 21%, revela um estudo de 2021, publicado na revista Nature Climate Change. E o problema poderá agravar-se nos próximos anos – o que se reflitirá nos preços para o consumidor.

O preço dos produtos alimentares disparou em 2022. O relatório extraordinário do IPES (Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares) refere que esta é terceira crise alimentar dos últimos 15 anos. Vários fatores explicam o fenómeno: as cadeias de distribuição foram profudamente afetadas pela pandemia de COVID-19, a guerra da Ucrânia afetou o fornecimento de cereais e de gás natural, e a escalada no preço dos combustíveis fez disparar o custo de bens essenciais como os hortícolas ou o peixe.

Mas as alterações climáticas podem ter um efeito mais duradouro no preço dos alimentos, pricipalmente dos que vêm da terra. A agricultura é totalmente dependente do clima e está cada vez mais vulnerável a ele. Mais cedo ou mais tarde, “as alterações climáticas vão ter um impacto significativo no preço dos alimentos”, diz à Renascença Isabel Dinis, especialista em Economia Alimentar. Os eventos climáticos extremos vão implicar condições mais difíceis de produção, destruição de colheitas e maiores custos de manutenção para os agricultores. Tudo isto subirá os preços para o consumidor.

Agricultores veem plantações destruídas. O tempo “está todo trocado”

Qualquer agricultor sabe que um clima variado é essencial à agricultura. António José Stretch, engenheiro agrónomo e especialista em agricultura biológica, explica porquê: “o frio, por exemplo, faz bem para quebrar a dormência dos frutos. Mas o calor em demasia seca, as tempestades estragam tudo, e a chuva alaga os solos”. Imprevistos climáticos e situações extremas sempre fizeram parte da profissão de agricultor, mas agora o tempo “está todo trocado”, observa o especialista.

Verões antecipados, secas prolongadas e chuvas intensas têm destruído plantações e culturas. Nélio Paiva, agricultor na Nazaré, teme que a produção dos próximos meses esteja em risco: “Plantei couves há dois meses e elas estão tal e qual como as plantei. Não cresceram nada. Enquanto numa estação normal, elas estariam aqui em aberto, em meia cabeça”.

Apesar de ter conseguido atenuar os custos no último ano, por não recorrer a pesticidas, amónios e outros produtos químicos que aumentaram de 20% a 50% em 2022, Nélio receia que a “chuva a mais” o obrigue a subir os preços.

O agricultor garante o abastecimento de uma banca de mercado e de um serviço de entrega de cabazes de produtos hortícolas ao domicíclio (O Canteiro) a partir de produção própria e de uma rede de […]

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