O líder do Sudão desde o golpe de Estado, o general Abdel Fattah al-Burhan garantiu hoje que “concordou em todos os pontos” com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, sobre a mega barragem no Nilo, após um encontro entre ambos.
O primeiro-ministro etíope visitou hoje, pela primeira vez desde agosto de 2020, o vizinho Sudão.
Após ter sido recebido pelo general Fattah al-Burhan, este garantiu, em comunicado à imprensa, que “o Sudão e a Etiópia estão de acordo em todos os pontos da barragem do Renascimento”.
Quando iniciou a construção desta imensa obra no Nilo Azul em 2011, a Etiópia despertou a ira do Egito, que receia a falta de abastecimento de água.
Quanto ao Sudão, a sua posição nos últimos anos tem variado, estando umas vezes ao lado do Cairo e outras ao lado da Etiópia.
Até agora, o primeiro-ministro etíope não fez qualquer referência às discussões em Cartum sobre a Grande Barragem da Renascença (Gerd).
Porém, na rede social Tweeter, o chefe do executivo etíope apenas disse que insistiu com o general Al-Burhan e o seu número dois, general Mohammed Hamdan Daglo, no “princípio não intervencionista da Etiópia”.
Abiy Ahmed disse também que é preciso “apostar nas múltiplas capacidades do povo sudanês para enfrentar os seus próprios desafios” e encontrar “soluções locais” para o país sair da crise pós-golpe.
Em 05 de dezembro, civis e militares sudaneses assinaram um acordo-quadro para uma saída da crise, aplaudido pela Organização das Nações Unidas (ONU), pela União Africana e por vários países, mas que se mantém muito generalista e estabelece apenas alguns prazos.
O objetivo final é restaurar um governo civil, como foi estabelecido após a revolta que levou o exército a destituir o ditador Omar al-Bashir em 2019.
Os generais e as forças civis demitidas durante o golpe concordaram em assinar, mas grupos de ex-rebeldes rejeitam um acordo “exclusivo”.
Regularmente há manifestações na rua para exigir a saída pura e simples dos militares do poder – e de todas as negociações políticas.
Abiy também partilhou fotos mostrando-o a sorrir ao lado de líderes sudaneses, enquanto as relações entre os dois países se degradam regularmente devido a várias questões.
Desde 2020, a questão dos refugiados etíopes, que fogem do conflito na região do Tigray, que terminou oficialmente em novembro, tem sido um ponto crítico na agenda das relações entre os dois países.
Frequentemente, os exércitos sudanês e etíope acusam-se mutuamente de abusos e incursões.
As terras agrícolas muito férteis de Al-Fashaga também são objeto de uma disputa há várias décadas entre os dois países, mas os confrontos por vezes mortais multiplicaram-se desde o final de 2020.