Ministério da Agricultura desaparece aos bocados

Escrever sobre política não é meu objetivo para esta página, mas há exceções. Comecei este blog em 2019 com um “Poste político – queremos um Ministério da Agricultura em Lisboa”, quando, após as eleições, se receava que o ministério desse lugar a uma secretaria de estado dependente de outro ministério.

 

O Ministério da Agricultura não desapareceu, mas foi desaparecendo. Em 2019 perdeu as florestas para o Ministério do Ambiente. Depois perdeu a tutela dos animais de companhia. No mês passado foi anunciada a integração das Direções Regionais de Agricultura nas CCDR – comissões de coordenação de Desenvolvimento Regional.

Estava eu a preparar-me para escrever sobre isso e dar o meu apoio aos colegas que ontem se manifestaram em Mirandela, convocados pela CAP contra a extinção das Direções Regionais de Agricultura e entretanto juntou-se mais uma acha para esta fogueira.

Aguardávamos há 3 semanas pela nomeação de alguém para a Secretaria de Estado da Agricultura após a demissão da última titular. Ficámos hoje a saber que a Secretaria de Estado da Agricultura “desapareceu” da lei orgânica do governo. O governo disse entretanto que isto é só o “retrato” do momento, mas fica muito mal na fotografia.

Ao longo dos últimos 20 anos, no trabalho associativo com jovens agricultores e produtores de leite, contactei com os vários diretores regionais de agricultura da minha região, primeiro do Entre Douro e Minho, depois do Norte. Fui sempre bem recebido e sentia que os problemas apresentados seriam resolvidos a nível local ou levados diretamente ao Ministério.

De igual forma contactei com os vários secretários de Estado da Agricultura ao longo dos últimos doze anos. Tendo os ministros um papel sobretudo político e global, são os Secretários de Estado, em geral técnicos com um profundo conhecimento do setor, que tem tempo para nos atender para apresentarmos as questões, problemas e soluções concretas.

Tudo isto é mau sinal. É falta de atenção e de respeito por uma agricultura cada vez menos importante para as elites que nos governam.

O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.


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