O PCP anunciou hoje que vai apoiar uma futura candidatura da produção artesanal do vinho de talha a património cultural imaterial da UNESCO, considerando que essa produção constitui um “bom exemplo” das “enormes potencialidades” do distrito de Beja.
No âmbito das jornadas parlamentares do PCP, que decorrem desde segunda-feira em Beja, os deputados Paula Santos e João Dias deslocaram-se até à Vila de Frades, para visitar adegas de vinho de talha, produzido através de uma técnica ancestral que data da época romana e tem cerca de dois mil anos.
No total, segundo o presidente da Câmara Municipal da Vidigueira, Rui Raposo, há hoje cerca de 70 adegas nas vilas de Vila de Frades e Vidigueira, um número que corresponde a cerca de metade das 150 adegas que constam nos últimos registos de que há data.
Apesar de menor, a produção de vinho de talha está agora a recomeçar, fruto de novas gerações que estão a recuperar aquela técnica ancestral e a procurar “pô-la na boca do mundo”, depois de ter conhecido uma “grande queda” há cerca de 50 anos.
Teresa Caeiro é precisamente um desses casos: depois de ter estado no estrangeiro, regressou a Vila de Frades para trabalhar numa adega que “tem cerca de 250 anos” e está na sua família desde o bisavô.
Com uma produção de cerca de 20 mil garrafas em 2022, a adega de Teresa Caeiro emprega hoje três pessoas.
“O nosso objetivo principal é mesmo fazer o vinho, pô-lo na boca do mundo, levar o vinho para fora, fazer com que as pessoas de lá venham cá, consumam, durmam, bebam, vão aos nossos supermercados, etc.”, frisou.
Por sua vez, Ruben Honrado, que lançou o vinho “Talha”, também fez um trajeto semelhante: depois de ter trabalhado no setor da tecnologia em São Francisco, Estados Unidos, regressou a Vila de Frades para produzir vinho de talha com o pai, gerente de um restaurante e produtor de vinhos.
Ao lado do restaurante, compraram um “armazém antigo”, “convenientemente localizado”, que, após as obras de restauração, revelou ser uma antiga adega, com arcos e paredes de traço arquitetónico romano e, no meio, “uma talha enterrada no chão”.
“Foi um tesouro enterrado que nós descobrimos e que, por sorte, acabámos por restituir o seu objetivo original passados muitos anos. A partir daí, aquilo que era um espaço para ser apenas de produção de vinho, achámos que tinha condições e potencial para ser também um cartão de visita para o turista que vem visitar o concelho”, disse Ruben Honrado.
De forma a “salvaguardar toda esta história” e a “tradição que está enraizada” no território, a autarquia local quer inscrever a “técnica de produção ancestral” do vinho de talha no Inventário Nacional para, depois, a candidatar a património cultural imaterial da UNESCO.
“O vinho [de talha] já é património cultural imaterial – creio que na Geórgia – e aquilo que nós estamos neste momento a candidatar é a sua técnica ancestral, daí termos a sua candidatura já elaborada, o seu dossiê já finalizado e entregue na Direção Geral do Património Cultural (DGPC), para sua avaliação e depois inscrição do bem em Inventário Nacional e depois aí, sim, a candidatura à UNESCO”, frisou Rui Raposo.
O PCP afirmou que apoia, desde já, essa candidatura, tendo a líder parlamentar do partido, Paula Santos, salientado que o vinho de talha é um “bom exemplo” das “enormes potencialidades” e “da riqueza” do distrito de Beja.
Frisando que, durante a sua visita, se notou que o vinho de talha está “muito enraizado” e “que se quer projetar, que se quer partilhar com o outro”, Paula Santos sublinhou que esse é um aspeto “de valorizar”.
“É disso que também faz parte a nossa cultura, a nossa riqueza, as nossas vivências, mas todo o nosso território: das nossas gentes, mas também daquilo que é o nosso espaço”, disse.