António Maçanita: “Só há agricultura e jovens na agricultura se houver economia”

O enólogo e produtor de vinhos está a recuperar castas indígenas quase extintas ou fora de moda e a multiplicar o seu valor. Em entrevista, destacou o potencial da agricultura em atrair jovens e como se pode gerar valor com produtos especiais, específicos e bons, que tenham “terroir”.

Os projetos de António Maçanita são movidos pelo desafio e vontade de inovar. Nascem da dedicação à recuperação de vinhas pouco rentáveis, algumas em vias de extinção, conseguindo multiplicar o seu valor e criar vinhos únicos. O objetivo é sempre o mesmo: valorizar as características inerentes das castas e regiões, sempre com um sentido de recuperação histórica e desenvolvimento sustentável.

O enólogo e produtor de vinhos foi o convidado do videocast Agricultura Agora | Conversas sobre Sustentabilidade, que se realizam no âmbito do Prémio Nacional de Agricultura (PNA). Estas entrevistas são conduzidas pelo jornalista João Ferreira, e têm como objetivo interagir com os intervenientes do mundo da agricultura, sobretudo na vertente da sustentabilidade. Uma iniciativa do BPI e da Cofina que conta com o patrocínio do Ministério da Agricultura e o apoio da PriceWaterhouseCoopers. O PNA visa premiar os agricultores e as empresas portuguesas que se destacam como casos de sucesso no setor da agricultura em Portugal.

Como consegue desempenhar este milagre de recuperar vinhas que não são rentáveis e multiplicar o seu valor?

Os grandes vinhos do mundo acontecem em condições extremas de alta improbabilidade na agricultura. Vêm sempre de locais em que as produções estão no limite do crescimento. O exemplo mais extremo é o da ilha do Pico, nos Açores, onde as vinhas estão plantadas nas rachas da rocha, desafiando a definição do solo. A rocha está junto do mar bravio, com água salgada que “queima” tudo. Essas condições extremas levam a que as vinhas sejam muito pouco produtivas, menos de mil quilos por hectare, comparando, por exemplo, com os vinhos verdes, que conseguem produzir 15 a 20 toneladas por hectare. É normal que, com o tempo, estas vinhas com produtividade baixa tenham deixado de ser sustentáveis. Gosto de olhar para a palavra “sustentável” com a ideia de durabilidade. Algumas vinhas estavam em vias de extinção e foquei-me nesses projetos porque acho que os grandes vinhos se encontram nessas condições. Tenho uma ligação emocional com os Açores, pois o meu pai é açoriano. Em 2007 dei aulas de introdução sobre vinhos numa escola de hotelaria e inteirei-me de uma casta quase extinta, o Terrantez do Pico, que tinha menos de 89 plantas. Associei-me ao projeto de reabilitação desta casta, que era “mal-amada”, propensa a doenças e apodrecia com facilidade. Hoje conseguimos que as 89 plantas passassem a 30 hectares.

Fruto da sua intervenção, a casta Terrantez do Pico cresceu, o preço da uva disparou e estes vinhos já começam a ser premiados pelo mundo. Como é que explica isto?

Está tudo conectado. Só há agricultura e jovens na agricultura se houver economia. O primeiro passo foi testar o potencial dessa uva. O primeiro Terrantez do Pico foi a ponta da lança desta revolução dos vinhos dos Açores e hoje é a uva mais cara da ilha. O preço da uva era de 70 cêntimos/quilo, já chegou aos 7,90 euros/quilo, e atualmente está em 4 euros/quilo. Isto muda tudo porque a partir daí já não é uma agricultura de subsistência mas sim uma agricultura onde se […]

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