Nos últimos meses, nos Estados Unidos, o preço dos ovos subiu para valores nunca vistos, passando os 5 dólares por dúzia (4,6 euros). Para acalmar as pessoas assustadas com o preço dos ovos e as teorias da conspiração que entretanto surgiram, o meu colega Derrick Josi, mais conhecido por TDF Honest Farming, publicou um pequeno vídeo. Não sendo produtor de ovos, ele é agricultor e produtor de leite no Oregon e apresentou 3 razões para a subida do preço dos ovos:
Primeira razão, o aumento dos custos de produção, sobretudo combustíveis, energia e rações para alimentar as galinhas à base de cereais;
Segunda razão, a gripe das aves levada por aves migratórias para os aviários, obrigou ao abate de milhões de galinhas. A gripe das aves não é novidade nos Estados Unidos ou na Europa, mas as novas regras de bem-estar animal que proibiram as gaiolas nos aviários e obrigam à saída das galinhas para o exterior aumentaram os casos de contágio.
Terceira razão, que toda a gente que tenha um galinheiro no quintal conhece, as galinhas produzem menos ovos quando está frio. Quando as galinhas estavam fechadas no aviário com temperatura e luz controlada isso não as afetava, tendo acesso ao exterior reduzem a produção. Também na Nova Zelândia a mudança de regras nos aviários levou à falta de ovos e aumento do preço.
Pelo que vi no gráfico que encontrei e partilho aqui, o preço já está a baixar e é provável que o setor encontre um novo equilíbrio e resolva essas dificuldades com alguma nova técnica ou aumentando o número de galinhas nos períodos frios, mas outra coisa chamou – me a atenção. Por estes dias surgiu também no jornal Público um artigo a dizer que esta é uma boa ocasião para experimentar os ovos artificiais, à base de plantas, porque os ovos naturais já estão mais caros. Isto fez-me recordar que as regras de bem-estar animal são muitas vezes adotadas como solução de compromisso após a pressão de quem pretende proibir a criação de animais mas sabe isso é impossível de repente e portanto vai fazendo o que pode supostamente para melhorar as condições de vida dos animais mas também para tornar mais difícil a produção animal e mais caros os produtos de origem animal.
Assim, pouco a pouco, vão apertando o cerco. Eu concordo com a adopção de regras de bem-estar animal devidamente fundamentadas na ciência, mas temos que estar atentos, avaliar as consequências e rever as decisões, se necessário.
(Foto de Mary’s Farming Minute, gráfico de Trading Económics)
#carlosnevesagricultor
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.