A rega a partir da barragem de Campilhas, em Santiago do Cacém (Setúbal), voltou a ser cancelada este ano devido à seca, revelou a associação gestora, criticando ainda o eventual aumento do preço da água de Alqueva.
A albufeira está, neste momento, com um nível de armazenamento “que nos deixa muito preocupados perante o ano agrícola” que arranca “dentro de poucos meses”, realçou hoje à agência Lusa o diretor-adjunto da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS), Ilídio Martins.
A barragem de Campilhas, que “estava com 3%” de armazenamento de água no início do inverno, tem “neste momento 12%”, precisou o responsável, acrescentando que esta situação, contudo, “não permite fazer [a] campanha de rega” deste ano, prevista entre abril e outubro.
“A precipitação média na região anda na ordem dos 600 milímetros” e, nos últimos anos, a situa-se “nos 300 [milímetros], que é metade daquilo que devia chover”, sublinhou.
Segundo o responsável da associação, com sede em Alvalade-Sado, no concelho de Santiago do Cacém, este cenário de pouca chuva e de “cada vez menos água para regar” já se arrasta “desde 2013”, afetando entre “50 a 70 agricultores” do Vale de Campilhas que produzem arroz, milho e pastagem para os animais.
A ARBCAS fornece água para rega em 6.000 hectares neste concelho e nos municípios de Odemira e Ourique, no distrito de Beja, através de várias albufeiras, como Campilhas e Monte da Rocha.
Por outro lado, no Alto Sado e na barragem de Fonte Serne, que recebe água da albufeira do Alqueva, e onde vão ser plantados 2.500 hectares agrícolas, a associação disse temer que o possível aumento das tarifas da água por parte da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) obrigue a repensar a campanha agrícola.
“Há uma proposta da EDIA ao ministério da sua tutela para passar de 00,301 [euros] para 00,709 [euros], que é um aumento de 136%”, argumentou Ilídio Martins.
Para o diretor-adjunto da ARBCAS, trata-se de “uma coisa extraordinária”, tendo em conta que “a inflação está nos 8 a 9%”.
Caso avance esta proposta, a EDIA “mais do que duplica o preço da água que vamos adquirir na pouca zona que conseguimos beneficiar”, penalizando ainda mais “os agricultores que já estão a perder dinheiro” e que “precisavam de alguma ajuda dos organismos do Estado”, lamentou.
“A proposta é para a presente campanha de rega e nem sequer houve um aviso prévio” às organizações, acrescentou o responsável da associação que, em breve, vai “colocar à consideração dos associados este aumento extraordinário da tarifa” para saber “se querem água ou não”.
Num comunicado divulgado também hoje, a Federação Nacional de Regantes de Portugal (Fenareg) afirmou estar “em estado de choque” com a proposta “indecente” de duplicação das tarifas da água apresentada pela EDIA e reclamou a intervenção do Governo.
“Os regantes estão em estado de choque e consideram indecente a proposta de revisão dos preços da água e o plano de contingência para rega apresentados pela EDIA na reunião do Conselho para o Acompanhamento do Regadio de Alqueva, no passado dia 01 de fevereiro”, lê-se num comunicado da Fenareg.
De acordo com a federação, “essa proposta de revisão de preços duplica as tarifas da água para rega”, no que diz ser uma “situação a todos os títulos inaceitável, que condena a utilização da água para a grande maioria das culturas agrícolas, com consequências gravíssimas para o setor agrícola, a economia nacional e a coesão territorial”.