Em Portugal, a perda de zonas húmidas desde 1700 terá sido na ordem dos 42%, diz o principal autor de um artigo publicado esta quarta-feira na Nature.
Desde 1700, a área de zonas húmidas que o mundo perdeu é equivalente à dimensão da Índia, algo como 3,4 milhões de quilómetros quadrados (km2). É muito, mas o estudo publicado na revista Nature que tem como principal autor Etienne Fluet-Chouinard, da Universidade de Stanford (Estados Unidos), revela que as perdas são menores do que aquilo que se calculava até agora.
“Estão provavelmente sobrestimados os cálculos feitos anteriormente de que se tinham perdido 70% a 80% das zonas húmidas [do planeta”, disse ao PÚBLICO, por email, Etienne Fluet-Chouinard. A sua equipa diz que o valor real das perdas desde 1700 é de 21%. “Sabemos que a nossa estimativa global é conservadora, o valor real está provavelmente entre os 21% e os 35%”, explicou o investigador.
Mas porque é que as análises anteriores davam valores tão mais elevados? “Extrapolaram a partir de dados locais ou regionais concentrados em zonas onde houve perdas elevadas, sem levar suficientemente em consideração as vastas zonas húmidas que continuam a existir nas latitudes do Árctico e tropicais (por exemplo, o Norte do Canadá, a planície da Sibéria, as bacias dos rios Amazonas e Congo)”, explicou Fluet-Chouinard.
O que se passou em Portugal
Portugal não é mencionado no artigo, surge apenas como parte do mapa da Europa. Mas Etienne Fluet-Chouinard disse ao PÚBLICO qual a perda de zonas húmidas estimada para Portugal, com os seus métodos: “Os nossos resultados sugerem que cerca de 42% das zonas húmidas se perderam desde 1700, através de uma combinação de drenagem para criar terras agrícolas, conversão para o cultivo de arroz e áreas urbanas”, adiantou.
Mas faz uma ressalva: “No entanto, o nosso método global tem resultados mais fracos em países pequenos e ao longo de zonas costeiras. O nosso mapa global não substitui avaliações nacionais detalhadas dos recursos de zonas húmidas”, sublinha o investigador.
61,7% das zonas húmidas destruídas foram reconvertidas para terras agrícolas. Segue-se o cultivo de arroz (18,2%) e criação de áreas urbanas (8%)
As perdas de zonas húmidas ao longo dos últimos três séculos concentraram-se na Europa, Estados Unidos e China. Na verdade, mais de 40% das perdas globais aconteceram em apenas cinco países: Estados Unidos, China, Índia, Rússia […]