Maria do Céu Gonçalves: “Estratégia, a três anos, é estar em sete regiões vinícolas”

A Terras & Terroir comprou a Ribafreixo Wines e 114 hectares de vinha na Vidigueira. Vinhos Verdes e Algarve estão na mira do grupo dono da Quinta da Pacheca e que prepara vários outros investimentos.

A administradora do grupo nascido do investimento na Quinta da Pacheca, no Douro, já lá vão dez anos, releva nesta entrevista vários novos investimentos, todos metem vinho e turismo, actividades que Maria do Céu Gonçalves vê como um só negócio. A Terras & Terroir, da empresária e dos sócios Álvaro Lopes e Paulo Pereira, comprou em Setembro a Ribafreixo Wines (o grupo não revela o valor desta aquisição, nem de outros investimentos), com 114 hectares de vinha na Vidigueira, no Alentejo. Tem uma mão-cheia de hotéis na calha, um abre já no último trimestre de 2023. E, em três anos, quer estar em sete regiões vinícolas.

O império fundado por dois portugueses que cresceram e se fizeram empresários em França, hoje gerido a seis mãos, já estava no Douro, no Dão, na Bairrada e no Alentejo. A essas regiões soma já Trás-os-Montes — outra notícia que surge nesta entrevista —, onde já explora uma propriedade em Valpaços, cujos primeiros vinhos chegarão ainda este ano ao mercado. São já 300 hectares de vinha, 200 colaboradores, só em Portugal. Na mira do grupo, estão agora as regiões dos Vinhos Verdes e do Algarve.

Comemoraram em Novembro dez anos à frente da Quinta da Pacheca, no fundo, onde começa o vosso percurso em Portugal. É verdade que encontraram uma produção de 80 mil garrafas e hoje produzem mais de um milhão?
No ano passado, só aqui na Pacheca foram 1,7 milhões de garrafas. Quando cá chegamos eram 80 mil, sim.

Vocês compram uva?
Entretanto, comprámos mais hectares no Douro. No total temos [no Douro] 70 hectares, mas temos acordos com produtores. Aqui à volta da Pacheca, temos muitos produtores que têm terras, que nos estão alugadas. E também compramos as uvas, seleccionadas pelos nossos enólogos e pelos nossos engenheiros. Esses 70 hectares incluem a Quinta de São José de Barrilário e o Vale Abraão, ali no Six Senses – a parte de vinhas é nossa.

Mas não saltaram das 80 mil garrafas para 1,7 milhões de um dia para o outro. Como foi esse percurso?
Quando nós chegámos, a família Serpa Pimentel não engarrafava todo o vinho que produzia e também vendia uvas a outros produtores. Vendia vinho a granel, não fazia mais vinho do Porto para além do Vintage, em anos vintage. No primeiro ano, guardamos tudo para nós. Depois, fomos constituindo stocks.

Foi um cônsul português da época em França que você aconselhou este investimento, porquê? Estavam à procura de quê?
Nós não estávamos à procura de comprar uma quinta. Éramos distribuidores, vendíamos vinhos da Quinta da Pacheca em França há vários anos, desde 2001. Tinham muito boa imagem, de qualidade. Foi através de um amigo nosso, cônsul em França, que é daqui da Régua e conhecia bem o D. José Serpa Pimentel, que lhe pediu ajuda porque queria vender, mas não queria vender tudo. Fizemos o negócio, mas da forma como nós queríamos fazer. No primeiro ano mantivemo-los como sócios. Tinham 25 por cento, nós tínhamos 75 por cento. Em 2013 comprámos a parte deles.

Mas essa opção foi por segurança ou porque não conheciam o sector, a produção?
Eu achava super-interessante poder continuar a trabalhar com a família, porque eles conheciam a região e a quinta. E a D. Teresa estava muito ligada à quinta, emocionalmente, ainda hoje cá vive – tem usufruto da casa –, não se via a viver fora daqui, e eu não me sentiria bem de outra forma. Trabalhou connosco até há seis meses.

A quantos viticultores compram uva, só para o universo da Pacheca?
Uns 70. Aqui no Douro, temos alguns colaboradores cujos pais têm terras e que hoje nos vendem a nós.

Qual é a sua opinião sobre a, infelizmente, eterna discussão do preço da uva no Douro? Sobre o facto de a mesma uva ter dois preços, consoante seja para DOC Douro ou para vinho do Porto.
Acho que o Vinho do Porto deveria ser vendido mais caro. Em França, neste momento, eu compro para a empresa vinhos do Porto de outras empresas a menos de 2,5 euros a garrafa e o nosso vinho do Porto é vendido à saída da adega a 4 euros, porque fomos para a qualidade. Fazer vinho do Porto e vender mais barato do que vinhos de mesa não faz sentido, há um investimento incrível no envelhecimento

O vinho do Porto pode ser mais bem pago e vendido mais caro. Mas a minha questão tinha que ver com o facto de a mesma uva ser mal paga para DOC Douro. E com esta discussão em torno do benefício…
O benefício foi uma forma de proteger os produtores, para terem um mínimo que lhes permitissem continuar a produzir uvas, aquele mínimo que ronda os 1100 euros por pipa, que permitisse que continuássemos a ter vinho do Porto. Porque, se não, as grandes empresas que exportavam é que mandavam nos produtores. Acho que foi uma forma muito inteligente de os proteger.

A que preço pagam para uva?
Varia. O que eu posso dizer é que é aqui no Douro somos chamados aqueles que mais bem pagam as uvas. No Douro, anda entre os 350 euros e os 800 euros a pipa. Nós andamos ali no meio. As pessoas gastam muito dinheiro para produzir as nossas uvas, porque os nossos enólogos e os nossos engenheiros são muito exigentes e procuramos sempre tratamentos mais sustentáveis. Temos produção integrada.

Quantas bodas é que vocês têm agendadas este ano e para o ano aqui na quinta?
Este ano, só temos dois fins-de-semana livres, em Dezembro. Está tanto frio, que esses estão livres. Temos 98 casamentos agendados para 2023. E para 2024 já temos 75. As bodas na Pacheca são realmente um negócio muito interessante.

Como é que entraram no radar de wedding planners de todo o mundo?
Entramos nesse ramo com wedding planners brasileiros. Fomos a duas feiras, uma em Londres e outra em Paris, em 2015 e 2018, para aí. E aqui em Portugal fomos a várias feiras e aí sim, funcionou mesmo muito bem. Quando nós chegamos, faziam aqui quatro casamentos por ano. Foi crescendo. Os casamentos já representam 15 por cento do nosso negócio de turismo na quinta.

Com a aquisição da Quinta de São José do Barrilário, estavam a prever construir um hotel. Como está essa obra?
Sim, está em curso. Estamos a prever abrir no último trimestre de 2023. E vai ser um hotel cinco estrelas, com uma vista fantástica sobre o rio Douro. É uma construção de tradicional, mas dentro desse patamar das cinco estrelas.

Mesmo com a ampliação aqui da Pacheca, vocês precisam, e têm, várias parcerias com outros hotéis aqui à volta. Com esse novo hotel, conseguirão colmatar um bocadinho essa falta de quartos, é isso?
Sim, quando temos eventos, não temos quartos. Temos 50 quartos, mas muitas vezes não chegam para os nossos […]

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