Concurso para eleger a árvore europeia de 2023 está a decorrer e há uma portuguesa. Rob McBride anda a visitar as concorrentes e passou pela freguesia de Sátão, onde está a árvore portuguesa do ano.
A família Figueiredo vai em força falar com Rob McBride. Quer contar-lhe tudo o que não se vê à vista desarmada sobre a “sua” árvore. “O eucalipto ainda tem dois metros por baixo. E um autocarro já parou aqui”, relata, em inglês, Rodrigo Figueiredo, que se faz acompanhar pela irmã, Adriana, e pelo pai, Manuel. Assim que se apercebe de que o que lhes estão a contar ali pode ser precioso, Rob McBride pede permissão para fazer um vídeo com aquelas histórias. E, ali, debaixo do monumental eucalipto de Contige, vão-se desenrolando saberes sobre esta árvore com mais de 40 metros de altura.
Rob McBride classifica-se como “um caçador de árvores”. No fundo, este britânico é um “localizador e descobridor” – não um caçador no sentido literal – das histórias das árvores e anda, neste momento, a visitar as que ganharam os concursos nacionais e que estão a concorrer para a competição europeia, como é o caso do eucalipto de Contige, na freguesia de Sátão, a 18 quilómetros de Viseu. Todos podem votar nas árvores de que mais gostarem até 28 de Fevereiro. No final da visita, Rob McBride espera ir cheio de histórias.
Se depender da família Figueiredo, vai repleto delas. O eucalipto de Contige vai fazendo parte da memória das diferentes gerações desta família. “O meu avô morreu em 2010, com 93 anos, e sempre se lembrou do eucalipto como ele é hoje”, diz-nos Manuel Figueiredo, de 57 anos, que, inevitavelmente, também se lembra da árvore desde sempre e agora vai transmitindo o que não está à vista aos filhos.
Rodrigo Figueiredo tem nas suas palavras os relatos do pai, Manuel. O jovem de 23 anos explica desenvoltamente que, por baixo do nível em que está, o eucalipto tem mais cerca de dois metros enterrado. Era nessa parte agora enterrada que o seu pai brincava em criança: “O meu pai diz que, quando era mais novo, se divertiam aqui.” E o pai confirma. “Eu, o meu irmão e os meus primos vínhamos a correr e subíamos por ele acima. Fui criado aqui e sempre me lembro dele…” Até nos explica que o espaço que o envolve nem sempre foi assim. “Quando o trânsito começou a aumentar um bocadinho, fizeram dois ramais. Mas uma estrada vinha direita àquela placa de identificação e o autocarro passava aqui”, descreve a apontar para o espaço. Hoje mora mesmo em frente ao eucalipto.
Os primeiros turistas vieram muito antes dessas mudanças, quando ainda só existia um ramal. Manuel Figueiredo deveria ter uns seis ou sete anos e andava a arrancar batatas na quinta com a família. “Era um senhor suíço com um Ford Escort azul. Nunca me esqueço!” O seu pai, que era emigrante, percebia um pouco de francês e entendeu-se bem com o senhor suíço, que pediu para tirar fotografias.
No dia em que Manuel Figueiredo conta estas histórias foi entregue o prémio do Concurso Nacional Árvore do Ano 2023 pela UNAC – União da Floresta Mediterrânica (a entidade que organiza a competição em Portugal). Os presidentes da câmara e da freguesia de Sátão estiveram presentes numa cerimónia por baixo da árvore, que juntou outras entidades ligadas ao concurso e quem a conhece melhor, os habitantes de Contige. É o caso de Manuel da Costa e Alzira Rodrigues, que vivem a 100 metros da árvore.
“Vejo o eucalipto da minha casa”, faz questão de dizer Manuel da Costa, de 68 anos, enquanto bate palmas à cerimónia. “É um orgulho para a aldeia termos cá a árvore.” Ao seu lado, a sua mulher, Alzira Rodrigues, de 64 anos, filma no telemóvel o discurso de Rob McBride para o enviar aos filhos, que vivem fora. “Desde miúda que conheço o eucalipto.” O seu marido também foi “nascido e criado em Contige” e diz que ainda conheceu o eucalipto mais grosso, antes de se ter aterrado os tais dois metros. Agora, essas suas memórias começam a ser partilhadas com muita gente. “Há sempre gente aqui a vê-lo. Vêm famílias e até medem o eucalipto.” Neste dia, faz questão de ir cumprimentar Rob McBride, que também veio conhecer a sua árvore.
Pela Europa, com as mãos frias
O britânico começou o seu percurso no final de Janeiro na Polónia. Desde então, tem andado a percorrer a Europa para visitar muitas das 16 árvores que estão no concurso de árvore europeia de 2023. Depois da Polónia, onde viu um carvalho, esteve na República Checa a observar uma grande pereira de 300 anos. “Aqui em Portugal têm o sobreiro, que é importante para a indústria e para outras coisas. Para eles, são muito importantes as árvores de fruto”, assinala.
Também já esteve na Eslováquia, onde viu um carvalho enorme. Seguiu depois para a Hungria, onde teve a oportunidade de ver um plátano deitado quase em cima de um lago. “Agora vão para lá tirar fotografias, o que pode ser um problema quando se metem em cima dela. […]