As florestas tropicais da África Ocidental da Libéria estão a ser abatidas e a madeira ilegalmente exportada com o conluio de responsáveis governamentais, noticiou hoje a agência Associated Press (AP).
A notícia da AP tem como base um documento do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, obtido pela agência, no qual se descreve um aparente “sistema paralelo” para o comércio de madeira.
O documento é uma compilação de relatórios preparados por monitores internacionais independentes durante os últimos três anos. Inclui 39 casos em que os monitores disseram ter encontrado provas de violação da lei ou de falhas na governação, sem que tenham sido tomadas medidas para resolver nenhum deles.
Por outro lado, dá-se conta de que o chefe do departamento de gestão da madeira liberiano, Mike Doryen, dirige uma própria “força tarefa especial” para evitar o pessoal destacado nos postos de controlo, responsável por tentar impedir o abate de floresta tropical virgem.
O documento da diplomacia britânica descreve uma rede de serrações ilícitas, exportações não contabilizadas e pagamentos que não foram depositados em contas oficiais, mas foram feitos à agência florestal liberiana, o tal “sistema paralelo” para o comércio de madeira.
“Tal sistema sugere a conivência de elementos na agência florestal, na Autoridade Portuária liberiana, e nas alfândegas”, escreveram diplomatas do Reino Unido.
O documento foi enviado aos ministros liberianos em setembro e foi transmitido ao gabinete do Presidente do país.
A Libéria é o país mais florestado da África Ocidental, ainda lar de espécies ameaçadas, como chimpanzés e elefantes.
No documento do Reino Unido indica-se que até 70% das exportações de madeira da Libéria podem contornar o sistema oficial de rastreio implementado para proteger a floresta. Se assim for, a Libéria também está a perder grandes somas de receitas, alertaram os diplomatas.
O dirigente do programa de governação florestal no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Liberiano, sem fins lucrativos, Jonathan Yiah, chamou-lhe “um colapso do Estado de direito no setor florestal”, acrescentando existir, de facto, um sistema ‘sombra’ para as exportações florestais no país.
O mesmo responsável acrescentou que o instituto trouxe à luz provas num caso “e não houve qualquer ação por parte” da Autoridade para o Desenvolvimento Florestal (FDA) do país.
Em resposta, o diretor executivo da FDA, Mike Doryen, negou que não tenha sido tomada qualquer medida. Numa mensagem por e-mail, garantiu ter ordenado que todas as serrações fossem registadas, e indicou que todas as receitas foram para as devidas contas, assegurando também não existir um sistema de exploração madeireira paralela.