O Ministério da Agricultura admitiu hoje não dispor da contabilização das plantas destruídas pela bactéria ‘Xylella fastidiosa’ nas sete Zonas Demarcadas criadas na região Norte.
“Não dispomos, até ao momento, de contabilização das plantas destruídas”, afirmou hoje, em resposta à agência Lusa, o Ministério da Agricultura e Alimentação, tutelado por Maria do Céu Antunes.
Classificada como “bactéria de quarentena” pela Organização Europeia para a Proteção das Plantas (EPPO), em Portugal, a ‘Xylella fastidiosa’ foi detetada, em janeiro de 2019, em plantas de lavanda num ‘zoo’ em Vila Nova de Gaia, no Porto.
A sua deteção levou à definição da primeira zona demarcada do país – a Área Metropolitana do Porto (AMP) – e, desde então, a região Norte conta já com sete zonas demarcadas: AMP, Alijó, Baião, Bougado, Mirandela e Mirandela II, e Sabrosa.
À Lusa, o Ministério da Agricultura garantiu que “todas as regiões demarcadas são causa de preocupação ao mesmo nível”.
Destacando que a Norte foram detetadas duas subespécies da ‘Xylella fastidiosa’ – multíplex e fastidiosa -, a tutela não especifica o impacto da bactéria na região, em particular, nas zonas onde a produção e o cultivo são predominantes, afirmando apenas que espécies como a oliveira, figueira, amendoeira, pessegueiro e sobreiro são suscetíveis à subespécie multíplex e que espécies como a nogueira, videira, amendoeira e pessegueiro à subespécie fastidiosa.
Questionada sobre as ações desenvolvidas com os produtores, a tutela afirma terem vindo a ser realizadas “várias sessões de informação” e que os serviços de inspeção fitossanitária, coordenados pela Direção Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV), “executam a nível nacional ações de prospeção em vários locais”.
“Foram realizadas, desde 2014, várias sessões de esclarecimento destinadas a produtores e suas organizações na região norte em vários locais, incluindo ações de formação específicas dirigidas a técnicos das associações para melhorar a capacidade de vigilância da bactéria”, refere a tutela, que tenciona organizar novas sessões de esclarecimento em todo o território nacional.
Quanto à sociedade civil, o Ministério da Agricultura indica que “já foram publicados artigos em vários jornais”, bem como realizadas sessões de informação, dando o exemplo de uma ação promovida “diretamente nas caixas de correio” dos munícipes de Vila Nova de Gaia e de Gondomar.
Já relativamente a uma eventual alteração das medidas em vigor, como, por exemplo, a utilização do material vegetal “assintomático” para erradicar o problema, a tutela salienta que as medidas de controlo aplicadas foram definidas a nível europeu e “são seguidas por todas as autoridades fitossanitárias de todos os Estados membros de forma harmonizada”.
“Essas medidas foram estipuladas com base em análises de risco realizadas por várias organizações científicas, nomeadamente a EFSA [European Food Safety Authority] e a EPPO [European and Mediterranean Plant Protection Organization], que recorrem aos dados científicos mais recentes”, refere o Ministério, acrescentando que a ausência de sintomas na planta “não é só por si indicação de que a planta não está infetada”.
“Podem ser realizados estudos, mesmo com plantas infetadas, em estações de quarentena devidamente autorizadas para o efeito, mas manter plantas em zonas infetadas e de espécies vegetais já detetadas como infetadas, constitui um risco de dispersão da bactéria, situação que apenas é admissível para exemplares oficialmente classificados de valor histórico, mas terão que ser sujeitos a amostragens frequentes para determinar se entretanto foram ou não infetados, assim como realizados tratamentos contra insetos vetores”, acrescenta o Ministério.
Em declarações à Lusa, a 10 de fevereiro, a investigadora Ana Aguiar da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) disse que as medidas de erradicação da Xylella fastidiosa “não são as adequadas”, defendendo que as plantas que não manifestam danos podem ser fundamentais para resolver o problema.
“Antes de destruir as plantas, e nesta fase em que a ‘Xylella fastidiosa’ está presente, mas não causa prejuízos para a agricultura, é urgente envolver os investigadores, financiando o trabalho da ciência”, observou a investigadora do centro GreenUPorto.