A Adega de Favaios, Alijó, lançou uma formação em viticultura e desafia os produtores a recuperar práticas de poda que prolongam a vida e a saúde da videira, considerando tratar-se de uma intervenção “subvalorizada”, foi hoje anunciado.
“A poda da vinha no Douro, como em muitas regiões vitícolas do mundo, é agressiva e mutilante”, afirmou hoje, citado em comunicado, o diretor de enologia da cooperativa instalada no planalto de Favaios, concelho de Alijó, no distrito de Vila Real.
Na opinião de Miguel Ferreira, esta “intervenção fundamental” de início de ciclo e a que se assiste, neste momento, um pouco por toda a região demarcada, é a que “mais influencia a saúde e longevidade da planta, bem como a qualidade dos vinhos” e está claramente “subvalorizada”.
“Falamos muito das ações em adega, mas o viticultor pode influenciar bem mais do que o enólogo na qualidade do vinho”, defendeu o enólogo.
Na sua opinião, “profissionalizar a poda” deveria ser uma prioridade no Douro, considerando que “é assustador verificar que um produtor pode entregar uma atividade fundamental para a saúde e longevidade da videira a trabalhadores indiferenciados, sem qualquer experiência na área”.
“É vital para o Douro uma poda mais respeitadora da videira”, sublinhou.
E é, neste sentido, que a Adega de Favaios vai promover, entre 27 de fevereiro e 03 de março, uma formação “em poda de respeito ou poda suave”.
A cooperativa duriense disse que se trata de um curso “pioneiro” em Portugal, com 18 horas, quase todas de aulas práticas, que pretende recuperar metodologias antigas de poda e que vai ser ministrado por uma empresa catalã.
E, para mostrar que o assunto “desperta cada vez mais interesse”, a adega referiu que a formação já está esgotada.
Miguel Ferreira afirmou que a “morte prematura das vinhas e a propagação de doenças do lenho é uma realidade que tem vindo a preocupar cada vez mais o setor” e defendeu que praticar uma poda que permita “ter uma vinha saudável e a produzir com qualidade durante longos anos é fundamental para a sustentabilidade dos viticultores”.
Este curso de poda integra o ciclo de encontros sobre viticultura regenerativa que a Adega de Favaios vai promover em 2023.
Trata-se, explicou a cooperativa, de um ciclo de formação aberto a toda a Região Demarcada do Douro, que tem como objetivo principal sensibilizar os associados da cooperativa, bem como outros produtores, para a importância de adotarem práticas de viticultura que melhoram e valorizam o solo das vinhas, tornando-as, desse modo, mais resilientes a doenças e a adversidades do clima.
“Pela sua história e dimensão, a Adega Cooperativa de Favaios tem uma grande importância na região duriense e, nesse sentido, queremos, o mais possível, implicar a adega no desenvolvimento e nas questões prementes da agricultura e ecologia atuais, acreditando que estamos assim a dar o nosso contributo para a sustentabilidade e futuro do território”, salientou Mário Monteiro, presidente da direção desta cooperativa.
Num ano de grandes desafios para a viticultura no Douro, por causa da seca e das altas temperaturas, a produção de vinho moscatel aumentou em 2022 na ordem dos 10% no planalto de Favaios.
O moscatel representa cerca de 60 a 70% (conforme os anos) da produção desta adega.
No total, entre vinhos moscatel, Porto, brancos e tintos, a cooperativa produziu, na última vindima, 11 mil pipas de vinho (550 litros cada).
A adega, que celebrou os 70 anos de existência em 2022, tem à volta de 580 associados e 45 funcionários a tempo inteiro.