A Associação de Produtores Agrícolas de Precisão (APAP) reclamou hoje do Governo a correção do projeto do perímetro de rega integrado na construção da Barragem do Pisão, no concelho de Crato (Portalegre), que “poderia ser feito melhor”.
Numa carta enviada à ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, a que a agência Lusa teve hoje acesso, a APAP considera que o projeto da barragem foi discutido de forma “muito genérica”.
“Queremos acreditar que ainda se possa ir a tempo de corrigir parte do que, na nossa visão integrada do perímetro de rega, poderia ser feito melhor, aproveitando de maneira mais correta os solos agrícolas da região e distribuindo água a mais regantes”, pode ler-se na carta.
A APAP, que, em conjunto com a Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre, criou a Associação de Beneficiários da Barragem do Pisão, em 2019, lamenta que “nunca” tenha sido criado um grupo de trabalho de apoio ao projeto do Pisão.
Este grupo de trabalho deveria ter incluído as associações, os técnicos agrícolas locais, os agricultores e as academias, o que, com o respetivo “conhecimento e experiência”, permitiria ajudar a “evitar erros já cometidos muitas vezes noutros empreendimentos”, defende na carta a APAP, sediada no concelho de Elvas (Portalegre).
O Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos (EAHFM) do Crato, também conhecido por Barragem do Pisão, vai envolver um investimento total de 171 milhões de euros, dos quais 120 milhões estão inscritos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Na carta enviada à ministra da Agricultura, datada do dia 14 deste mês, a APAP recorda que o projeto que está contemplado para o perímetro de rega do Pisão “não é muito diferente” daquele que já existia “há cerca de 20 anos”, mas, nessa altura, estavam previstos “alguns reservatórios” de regularização que, através de estações elevatórias, iriam permitir regar mais área, “sem o fator limitante” da cota do terreno.
“No projeto agora aprovado, não existem reservatórios, nem estações elevatórias, sendo a seleção dos terrenos a irrigar feita, naturalmente, pela cota que limita o abastecimento da rede gravítica e não pela aptidão da qualidade dos solos”, alertam.
Num outro documento da APAP, enviado à Lusa e no qual apresenta os seus fundamentos para discordar do atual projeto, a associação relata que a obra de rega da Barragem do Pisão, tal como está projetada, é um “desastre técnico” e que é “assumido em ‘off’ por alguns projetistas”.
“Em fase de campanha eleitoral estavam previstos mais de 11 mil hectares de solos a irrigar, hoje os números passam para metade e não chegam aos 5.500 hectares”, lamentam.
“Dos cerca de 5.500 hectares, uma grande parte corresponde a agricultores que regam esporadicamente (possivelmente cerca de 60% dos agricultores só regam em anos de seca), pois em anos normais regam de reservas próprias” alegam.
Com este cenário, a APAP conclui que esta obra “nunca se paga” e é “totalmente inviável” do ponto de vista económico.
“Os agricultores do Alto Alentejo vão utilizar, na melhor das hipóteses, menos de 9% do volume de água armazenado na albufeira do Pisão, o resto da água disponível para regadio vai seguir para o Vale do Sorraia. Mais uma vez, o Alto Alentejo vai fazer, essencialmente, reserva para o Vale do Sorraia, com as albufeiras do Pisão, Maranhão e Montargil”, pode ler-se.
Segundo o cronograma submetido à Comissão Europeia, as obras de construção da Barragem do Pisão estarão terminadas em 2025.
A albufeira, uma reivindicação histórica da região, vai garantir o abastecimento às populações (cerca de 55 mil pessoas) dos concelhos de Alter do Chão, Avis, Crato, Fronteira, Gavião, Nisa, Ponte de Sor e Sousel.