Os Centros de Física e de Química da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), com a parceria das Faculdades de Farmácia e de Medicina da Universidade do Porto, estão a trabalhar com novos compostos, tendo em vista desenvolver soluções insecticidas biológicas para aplicação na agricultura. Em concreto, os investigadores estão a desenvolver «nanoformulações lipossomais com novos compostos derivados ou análogos de compostos naturais (como o cravo da índia, de onde resulta o óleo eugenol), com capacidade insecticida e que já são usados na indústria farmacêutica».
«Estes são compostos novos. Queremos perceber como actuam a nível das células dos insectos, para medir o seu crescimento. Pretendemos encapsular estes compostos nos sistemas, para que possam ficar mais protegidos e permitam uma libertação controlada», explica Elisabete Castanheira Coutinho, professora do Departamento de Física da ECUM. De acordo com a Universidade do Minho, «os compostos já foram encapsulados e testados em células de insectos, nomeadamente da espécie Sf9 (Spodoptera frugiperda), e concluiu-se que são menos tóxicos para as células da pele do que os insecticidas convencionais, pretendendo-se que sejam aplicados na agricultura, por serem mais biológicos». Elisabete Castanheira Coutinho sublinha que «isto é bastante importante, porque as vias de intoxicação por insecticidas serão a pele, o pulmão e o tracto gastrointestinal».
A Universidade do Minho indica que o nanoencapsulamento «permite ultrapassar limitações como a estabilidade reduzida, elevada volatilidade, baixa solubilidade em água, baixa biodisponibilidade e fraca resistência à presença de oxigénio e à luz». Sameiro Gonçalves, professora do Departamento de Química da ECUM, responsável pelo desenvolvimento dos novos compostos, refere que este processo «tem várias vantagens, como manter as moléculas mais protegidas de efeitos ambientais, nomeadamente da temperatura, da exposição solar, da própria humidade, pois aumenta a estabilidade dessas moléculas», acrescentando que «também importante é a libertação gradual e não apenas no momento da aplicação».
Os investigadores estão igualmente a testar outros compostos, também derivados ou análogos de compostos naturais, em contexto empresarial, e os quais pretendem patentear, assinala a Universidade do Minho. A entidade esclarece que, «neste caso, os compostos diferenciam-se por serem mais activos do que os que foram analisados na primeira fase, conseguindo actuar de forma mais eficaz».
«A nível prático, estes compostos nanoencapsulados poderão ser colocados numa solução líquida, possibilitando a pulverização dos solos ou das plantas, quando utilizados na agricultura. Como são compostos de origem natural, não existe bioacumulação e há um menor índice de poluição a nível do ar, da água e do solo», realça a Universidade do Minho. Sameiro Gonçalves acrescenta que, «à partida, aqueles compostos não terão efeitos nefastos em nenhum destes elementos, porque, sob acção da radiação e da própria humidade, poderão originar os compostos naturais de partida e os que forem libertados não terão impacto negativo».
A Universidade do Minho declara que já está a decorrer o processo de patenteamento dos compostos mais promissores. Um artigo relativo a este trabalho foi recentemente publicado na revista Nanomaterials.
Artigo publicado originalmente em Revista Frutas, Legumes e Flores.