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Libertado na natureza o 100.º lince nascido no Centro Nacional de Reprodução do lince-ibérico

Assinala-se esta sexta-feira, 3 de março, Dia Mundial da Vida Selvagem, a libertação na natureza em Sierra Arana, Andaluzia, do 100.º lince nascido no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI), em Silves, no Algarve, desde a abertura deste centro.
Os cem exemplares criados no CNRLI foram introduzidos no meio natural em diferentes locais na Península Ibérica, no âmbito do programa ibérico de conservação da espécie legalmente enquadrado, em termos nacionais, pelo Plano de Ação para a Conservação do Lince-Ibérico em Portugal (PACLIP 2015), que inclui ações fora do habitat natural e no terreno.

Inaugurado a 26 de outubro de 2009, o CNRLI faz parte da rede ibérica de centros de reprodução que constitui o Programa de Conservação ex situ (fora do habitat natural) do lince-ibérico, sendo o único do género em Portugal. Até final de 2023 este programa terá libertado 372 animais.

Desde 2010, nasceram no CNRLI 154 linces. Desses, 119 sobreviveram mais de 6 meses. Ao todo, foram reintroduzidos 17 linces em Portugal, 29 na Andaluzia, 24 na Extremadura e 32 em Castela La Mancha. O 103º será solto na Região de Múrcia, que inicia os trabalhos de reintrodução em 2023, ainda durante o mês de março. Estes 103 animais correspondem a 86.5% de todos os linces sobrevivos nascidos neste centro de reprodução, que funciona como uma ferramenta fundamental de apoio à recuperação das populações selvagens da Península Ibérica.

A primeira libertação de linces nascidos no CNRLI deu-se a 14 de março de 2013, quando Joio, Joeira, Jeropiga e Janeira foram soltos na Andaluzia, em Guarrizas e Guadalmellato. Todos filhos do macho Eón e da fêmea Fresa – a fêmea recordista do CNRLI na contribuição para as reintroduções com 17 crias suas libertadas na natureza por toda a Península. Do lado dos machos é do Drago o maior contributo, com 20 filhos seus soltos na natureza até à data. Logo seguidos pelo macho Fresco com 18 e as fêmeas Biznaga e Flora com 14 contribuições para a recuperação da espécie em meio natural.

Alguns dos linces reintroduzidos acabaram por se transformar em animais emblemáticos, como Jacarandá, filha de Flora e Foco – a primeira fêmea a ser solta em Portugal, juntamente com Katmandú, e a primeira mãe identificada em liberdade em território nacional neste século, da fêmea Nossa. Jacarandá teve 9 filhas e filhos e pelo menos 77 netas e netos registados. O macho Luso, filho de Drago e Biznaga, foi libertado no Parque Natural do Vale do Guadiana em Maio de 2015 e é um dos mais prolíficos de que há memória: teve 21 filhas e filhos registados e pelo menos 133 netas e netos. Sendo apenas 1 dos 14 filhos da Biznaga e dos 20 filhos do Drago reintroduzidos na natureza, Luso, como Jacarandá, ilustra bem o impacto que cada um dos linces reprodutores em cativeiro pode ter nos territórios e nas populações de lince-ibérico através do êxito reprodutor dos seus filhos em meio natural.

Além da Jacarandá, outros linces nascidos no CNRLI serviram para inaugurar populações que agora ultrapassam em muito a centena de exemplares – Komodo, K2 e Kodiac a população de Matachel na Extremadura, e Kuna Kentaro e Khan a população de Montes de Toledo em Castela La Mancha. Estes últimos – Kentaro e Kahn – ensinaram-nos também que os linces podem dispersar milhares de quilómetros em relativamente pouco tempo, atravessando inclusivamente a barragem do Alqueva a nado, sendo veículos importantes de transmissão de informação genética entre populações.

Desde 2010, nasceram no CNRLI 154 linces. Desses, 119 sobreviveram mais de 6 meses. Ao todo, foram reintroduzidos 17 linces em Portugal, 29 na Andaluzia, 24 na Extremadura e 32 em Castela La Mancha. O 103º será solto na Região de Múrcia, que inicia os trabalhos de reintrodução em 2023, durante o mês de março. Estes 103 animais correspondem a 86.5% de todos os linces sobrevivos nascidos neste centro de reprodução, vincando a sua função de ferramenta de apoio à recuperação das populações selvagens da Península Ibérica. Os restantes ficaram em cativeiro para substituição de reprodutores ou são considerados excedentes por taras genéticas.

Em Portugal, o “Censo da população de lince-ibérico do Vale do Guadiana” relativo ao ano de 2022 permitiu confirmar a existência de mais de 30 fêmeas reprodutoras na população de lince-ibérico reconstituída a partir de 2015, instalada no Vale do Guadiana e, desde 2019, também no sotavento serrano Algarvio.

O lince-ibérico (Lynx pardinus) chegou a ser considerado a espécie de felino mais ameaçada do mundo, e ainda é uma das mais ameaçadas, mas está a recuperar com a ajuda dos esforços de conservação de ambos os lados da fronteira. Em Portugal, atingiu no início do século XXI uma fase de pré-extinção, sendo que os últimos vestígios de lince em território nacional foram detetados 2001, em zona de fronteira, provavelmente de um lince dispersante de populações em Espanha. Antes disso, o último vestígio de lince comprovado em Portugal foi registado no início da década de 90 do Século XX.

Atualmente, as 31 fêmeas reprodutoras confirmadas em território nacional asseguram a sustentabilidade desta população em Portugal, pelo que para se manter em crescimento já não depende de soltas anuais de vários exemplares nascidos em cativeiro.

O aprofundamento em curso dos estudos genéticos incidentes sobre o maior número possível de exemplares em liberdade e em cativeiro, quer em Espanha, quer em Portugal, poderá recomendar que se mantenham libertações com o objetivo de aumentar a diversidade genética e baixar os níveis de consanguinidade.

Ao mesmo tempo, serão planeadas translocações, dentro e entre populações, de exemplares já nascidos em estado selvagem, selecionados pelas suas características genéticas, com o objetivo de se controlar e reduzir a taxa de endogamia.

Desta forma, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em estreita articulação com as administrações congéneres de Espanha, quer a nível do Governo central, quer a nível das Regiões Autónomas de Espanha, optou por não promover a libertação de jovens linces provenientes de reprodução em cativeiro, em 2023, permitindo assim concentrar esforços na preparação e prossecução de ações de gestão ativa no terreno, visando a melhoria do habitat para o lince e para a sua espécie presa preferencial – o coelho-bravo – na auscultação e sensibilização do público, centradas nas novas áreas de distribuição natural.

Tanto no terreno, na preparação de habitat em novos territórios, como no CNRLI, que recebeu o seu primeiro lince em 26 de outubro de 2009 e onde já nasceram 154 linces, os esforços de conservação do lince-ibérico não esmorecem, o que permite assinalar com esperança o Dia Mundial da Vida Selvagem relativamente a esta espécie.

Artigo publicado originalmente pelo ICNF.


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