Utilização sustentável da biomassa: uma estratégia em duas frentes – João Patrício

O que no verão é um rastilho para uma catástrofe e um perigo para os cidadãos e seu património, no inverno pode vir a ser uma arma contra a pobreza energética.

Os anos sucedem-se e, nos períodos de tempo mais quente, repete-se a aparentemente inexorável fatalidade que coloca vastos territórios do país em aflitivo debate com fogos capazes de tomar proporções aterradoras. Multiplicam-se então em catadupa as reportagens que dão a conhecer cenários dantescos nos quais vários hectares vão sendo reduzidos a cinzas, com avultados prejuízos patrimoniais e ambientais, aos quais lamentavelmente se somam as vidas que perecem no confronto com as chamas.

Os incêndios são, efetivamente, um drama real e presente permanentemente na vida de quem habita territórios rurais ou nas imediações de blocos de vegetação, capazes de tornar cada verão uma altura de tormento e constante sobressalto. Além disso, numa altura da nossa vida coletiva em que as temperaturas escalam ao ritmo desenfreado imposto pela batuta das alterações climáticas, cada verão mais quente até ao momento será, na verdade, o mais frio comparado com todos os que ainda teremos por diante e um motivo de preocupação menor do que aquele que o ano seguinte oferecerá.

Todavia, apesar de a mudança de estações permitir aliviar temores em relação aos incêndios, esta não configura por si só uma eliminação de todos os problemas que vão afetando, de forma mais particular, as populações que assentaram o lar fora das grandes malhas urbanas.

Num país em que a pobreza energética infelizmente ainda está embutida nas fundações de um número considerável de edifícios, o que se torna particularmente problemático quando estes se destinam a habitação, o inverno é para muitos insuportável. Nesta conjuntura delicada, será ainda mais difícil resistir a baixas temperaturas com a escalada de preços da energia que foi ameaçando fazer-se sentir desde que a invasão russa à Ucrânia se materializou. […]

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