Agricultores serpenteiam ruas de Beja em protesto contra políticas do Governo

Agricultores em protesto contra as políticas do Governo, muitos deles ao volante de tratores, serpentearam hoje várias ruas da cidade de Beja para exigir mudanças no setor e a demissão da ministra Maria do Céu Antunes.

“É a maior manifestação realizada no país desde sempre. Temos na rua qualquer coisa como 800 tratores”, afirmou à agência Lusa o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa.

Já o secretário-geral da CAP, Luís Mira, realçou que “nunca houve uma manifestação com esta dimensão” em Portugal, acusando o Governo e o primeiro-ministro de estarem “surdos por não quererem ouvir os protestos”.

“Da última vez que fizemos estas manifestações, com Jaime Silva [antigo ministro da Agricultura de um Governo de José Sócrates], o partido do Governo perdeu 250 mil votos” e agora, “preparem-se porque nas próximas eleições o número ainda será superior”, frisou.

Organizado pela CAP, o protesto, o quinto realizado desde meados de janeiro, arrancou com uma concentração junto ao Parque de Feiras e Exposições de Beja e os tratores que circulavam para chegar ao local provocaram enormes filas nos acessos à cidade.

Já no local do ponto de partida da marcha lenta e enquanto aguardavam pelo seu início, os manifestantes, agricultores e alguns funcionários com casacos que identificavam a empresa onde trabalham, observaram a chegada dos tratores.

Um deles foi Paulo Cabral, que possui uma propriedade agrícola no concelho de Viana do Alentejo, distrito de Évora, onde faz criação de animais e tem plantadas amendoeiras.

Este agricultor contou à Lusa que se juntou ao protesto por estar contra o que disse ser “a vontade do Governo de desfazer o Ministério da Agricultura”, sustentando que o fim dos serviços “não tem cabimento”.

“Ainda na semana passada saí do Ministério da Agricultura e mandaram-me ir para a CCDR [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional] tratar dos papéis”, referiu, insistindo que “é a destruição completa” do setor.

O agricultor António Alfacinha, de Évora, também se mostrou preocupado com o alegado fim deste ministério, vincando que o setor agrícola “é essencial para qualquer país e em todos os países há Ministério da Agricultura”.

“Está à vista que as pessoas estão descontentes e unidas nestas sucessivas manifestações que temos feito, desde lá de cima, do norte, até aqui ao Alentejo e vamos continuar”, prosseguiu Miguel Melo, de Ferreira do Alentejo, que o acompanhava.

A marcha lenta arrancou dali e passou pelo centro da cidade até um terreno de terra batida, junto à mata, onde se realizam os discursos, com uma carrinha de caixa aberta a servir de palco improvisado à frente, seguida de agricultores a pé e dos tratores.

Os manifestantes utilizaram apitos para se fazerem ouvir e alguns empunhavam bandeiras pretas, enquanto os tratores tinham os pirilampos ligados e alguns levaram pendurados cartazes com palavras de ordem contra a ministra e o Governo.

“Maria do Céu a tua demissão será um troféu”, “Ministério da Agricultura forte e eficiente, consumidor e agricultor contente” e “Contra a incompetência do Ministério da Agricultura” eram algumas das frases que se podiam ler.

Nas declarações à Lusa, o presidente da CAP frisou que os agricultores não têm “nada contra a senhora Maria do Céu Antunes”, considerando, porém, que “a ministra Maria do Céu Antunes não serve para ministra”.

A atual governante “não tem competência, não entende o setor, não consegue tomar medidas que tenham coerência na construção de ajudas para a política agrícola”, apontou.

Por sua vez, o secretário-geral da CAP exigiu a execução de 1.300 milhões de euros que “estão disponíveis do anterior quadro”, “alterações da PAC [Política Agrícola Comum] para ajustá-la às necessidades” e a atribuição de compensações.

O Governo espanhol está a “dar compensações aos agricultores” do país e em Portugal “não se está a dar nada”, notou, criticando o executivo português por ter recebido “IVA como nunca” e não estar a compensar o setor “quando há dificuldades”.

“O preço dos alimentos está a subir, pois as ajudas são curtas e os agricultores não estão a ficar com as margens”, acrescentou.

A próxima marcha lenta da CAP realiza-se, no dia 24 deste mês, em Évora.


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