Ucrânia: ONU defende acordo dos cereais do Mar Negro a uma semana de expirar

As Nações Unidas (ONU) publicaram hoje um relatório com os efeitos benéficos do acordo dos cereais do Mar Negro, assinado com a Ucrânia e a Rússia, cuja validade se aproxima do fim, apesar das negociações para a sua renovação.

O relatório elaborado pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) detalha que, graças a este acordo, 23 milhões de toneladas de cereais foram exportadas em todo o mundo, das quais 55% para países em desenvolvimento e o restante para países desenvolvidos.

No total, 49% das exportações corresponderam a milho, 28% a trigo, 11% a derivados de girassol e 4,3% a cevada, segundo dados detalhados pela UNCTAD.

O fluxo tem-se mantido relativamente estável, com o mínimo de 2,8 milhões de toneladas em novembro de 2022 e o máximo de 4,1 milhões em outubro daquele ano.

A agência das Nações Unidas destacou que 60% dos cereais exportados pela Ucrânia desde a assinatura do acordo em julho de 2022 em Istambul foram expedidos ao abrigo desta iniciativa, que foi mediada pela ONU e pela Turquia, cujo prazo de validade termina no próximo dia 18 de março.

Apesar do relativo sucesso, o acordo não impediu que as vendas externas de cereais da Ucrânia – que juntamente com a Rússia é um dos maiores produtores mundiais desse tipo de alimento – fossem 22% inferiores aos valores pré-guerra.

A UNCTAD destacou ainda que a guerra fez com que o transporte de cereais ucranianos fosse feito mais por rios do que por mar.

Este transporte fluvial encarece o preço dos cereais, ao não permitir o seu transbordo em grandes navios e ao arrastar o tempo da viagem para os países em desenvolvimento, reconheceu a agência das Nações Unidas.

A UNCTAD indicou, no entanto, que a iniciativa ajudou na redução a inflação de alimentos a nível global, com os preços atuais 18% abaixo dos alcançados em março de 2022, no início da guerra, embora ainda estejam 45% acima da média das últimas duas décadas.

A organização reconheceu igualmente que a queda dos preços dos alimentos não foi notada em todos os países desde a assinatura do acordo, devido aos efeitos da depreciação de muitas moedas locais, que, por exemplo, permanecem mais altas do que em maio de 2022 em economias como Egito, Argentina ou Gana.

Na quarta-feira, durante uma visita à Ucrânia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse ser de “importância crítica” prolongar o acordo de exportação de cereais, lembrando que é vital para o abastecimento mundial de alimentos.

Por outro lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, realçou hoje que o pacto “tem duas partes”, a relativa aos cereais e sementes ucranianas e a outra ligada à exportação de sementes e fertilizantes russos, a qual Moscovo se queixa de não ser implementada.

“Só dá para prorrogar o que já está cumprido, mas se o pacote for cumprido pela metade, a questão da prorrogação fica bastante complexa”, afirmou.

Para o chefe da diplomacia russa, apenas a primeira parte do acordo foi cumprida.

“Nós, Rússia, cumprimos todos os nossos compromissos a esse respeito com os nossos colegas turcos. A segunda parte não foi cumprida de forma alguma”, acusou.


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