Pedro Fevereiro, diretor executivo do InnovPlantProtect (InPP), fala do presente e do futuro deste laboratório colaborativo que em apenas quatro anos de atividade submeteu dois pedidos de patente de produtos biológicos para combater doenças devastadoras no arroz e nos pomares.
A Syngenta é membro fundador do InnovPlantProtect no âmbito do seu compromisso de acelerar a inovação na agricultura com soluções inspiradas na natureza para ajudar a alimentar a crescente população mundial, de forma segura, enquanto cuidamos do planeta.
Quais são os projetos mais inovadores do InnovPlantProtect?
Pedro Fevereiro: Estamos envolvidos em duas agendas mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência, ambas vocacionadas para a utilização de subprodutos, da indústria das algas e da indústria dos insetos, na agricultura.
Trabalhamos em projetos relacionados com a monitorização da doença do declínio dos sobreiros e submetemos dois pedidos provisórios de patente: uma formulação para controlar a piriculariose do arroz e um biopestida para controlar o fogo bacteriano em pereiras e macieiras.
Qual é a bio-solução do InPP contra piriculariose do arroz?
Pedro Fevereiro: Trata-se de extratos naturais derivados de folhas, em combinação com um biopolímero sustentável, que podem contribuir para o controlo do fungo Magnaporthe oryzae responsável pela piriculariose do arroz.
Qual é a composição do biopesticida contra o fogo bacteriano?
Pedro Fevereiro: Trata-se de uma estirpe de Bacilus, isolada por nós no meio ambiente, com a qual lidamos inclusive quando consumimos a fruta, e que é capaz de controlar 90% a 100% do crescimento da bactéria (Erwinia amylovora) que causa o fogo bacteriano.
Estamos convictos de que é uma solução muito interessante para controlar esta doença. Em junho apresentaremos a proposta de patente definitiva, que será posteriormente negociada com entidades terceiras interessadas, preferencialmente com os sócios do InPP.
Em que outras bio-soluções está o InPP a trabalhar?
Pedro Fevereiro: Identificámos um fungo (benéfico) que produz um extrato que controla uma série de doenças em várias culturas. Estamos a avaliar as características deste extrato, ou seja, quais as moléculas responsáveis pela sua atividade antifúngica e, em meados de 2023, vamos submeter um pedido de patente provisória.
No InPP temos uma biblioteca própria de isolados de organismos patogénicos (fungos e bactérias) sobre os quais testamos diferentes tipos de agentes de controlo biológico e quando algum deles se mostra promissor avançamos para a fase seguinte do desenvolvimento da solução.
O InPP presta serviços de laboratório e digitais ao setor agrícola. Em que consistem?
Pedro Fevereiro: Podemos dar como exemplo a monitorização da cigarrinha verde nas vinhas do Alentejo, estamos a desenvolver um modelo robusto de previsão dos ataques desta praga para apoiar os viticultores na decisão sobre os tratamentos fitofarmacêuticos.
Outro serviço que prestamos é dirigido à indústria da canábis medicinal, realizamos análises de identificação molecular do viróide latente de lúpulo (HLVd), um organismo patogénico que ataca as plantas de canábis.
Temos em curso um projeto para identificação precoce da presença do oomiceta Phytophthora cinnamomi, responsável pela doença da tinta do castanheiro, através da monitorização do estado fisiológico de 20 castanheiros, no Sabugal, utilizando sensores nas plantas, no solo e no ambiente.
O objetivo é alertar os produtores para a presença da doença para que através de práticas culturais evitem a disseminação do oomiceta.
Quais são as prioridades do InPP para o triénio 2023-2025?
Pedro Fevereiro: A nossa prioridade é criar produtos biológicos e soluções digitais inovadores que possam ser protegidos e colocados no mercado, respondendo às necessidades dos agricultores.
A outra prioridade tem que ver com as pragas e doenças de quarentena. Em colaboração com o INIAV, estamos a preparar um laboratório para trabalhar com doenças de quarentena em confinamento (condições de controlo biológico nível 2) e vamos reestruturar outro laboratório para trabalhar com plantas infetadas com essas doenças, para poder testar os produtos (também com o nível 2 de controlo). Será um laboratório único do seu género em Portugal.
A terceira prioridade tem a ver com a origem do financiamento, que no caso dos laboratórios colaborativos tem de estar dividido em três terços: público; projetos competitivos; prestação de serviços e venda de patentes. Nos projetos competitivos estamos a passar para um nível maior de internacionalização, a criar formas de desenvolver os produtos através de projetos colaborativos competitivos (ex: Horizonte Europa).
Nos serviços, o nosso objetivo é continuar a prestar serviços personalizados, de acordo com as necessidades dos clientes (empresas agrícolas). Estamos a começar a desenvolver, por exemplo, um serviço de análises do microbioma (para compreender a composição dos microrganismos no solo e como evoluem perante a aplicação de fertilizantes ou fitofármacos).
Os próximos três anos estão garantidos em termos de financiamento, mas eles passam num ápice!
Como perspetiva o InPP num horizonte temporal até 2030?
Pedro Fevereiro: Podemos ser inovadores e ter alguma capacidade de internacionalização se formos rápidos a desenvolver mais algumas patentes. Identificamos o mar como uma das fontes para obter novos produtos, estamos a trabalhar com bibliotecas de bactérias marinhas para as testar face a diversos agentes patogénicos. Provavelmente nos próximos 3 anos ampliaremos a investigação na área do controlo biológicos de pragas.
O artigo foi publicado originalmente em Alimentar com inovação.