O ministro das Infraestruturas ucraniano considerou hoje que a proposta russa de prolongar por 60 dias o acordo sobre a exportação de cereais contradiz o acordo inicial que termina no próximo sábado, mas não rejeitou formalmente a proposta de Moscovo.
“O acordo sobre a ‘Iniciativa cerealífera do Mar Negro’ implica no mínimo 120 dias de prolongamento. A posição da Rússia de prolongá-lo por apenas 60 dias contradiz o documento assinado pela Turquia e a ONU [em julho passado]”, considerou em mensagem no Twitter o ministro Oleksandre Kubrakov.
O mesmo responsável disse que a Ucrânia aguarda a “posição oficial” das Nações Unidas e Ancara na qualidade de “garantes da iniciativa”.
Oleksandre Kubrakov reagia ao anúncio pelo vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Verchinine, na sequência de um dia de discussões com altos responsáveis das Nações Unidas em Genebra, e onde referiu que Moscovo “não se opõe a um novo prolongamento da ‘Iniciativa do Mar Negro’, após a expiração dos seu segundo mandato em 18 de março, mas apenas por 60 dias”.
“A nossa posição futura será determinada pelos progressos tangíveis na normalização das nossas exportações agrícolas, não em palavras, mas em atos. Isso inclui os pagamentos bancários, a logística do transporte, os seguros, o ‘degelo’ das atividades financeiras e o fornecimento em amoníaco através do oleoduto ‘Togliatti-Odessa’”, disse Verchinine.
O vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros sublinhou que manteve em Genebra discussões “francas e aprofundadas” com Martin Griffiths, responsável da ONU para os assuntos humanitários, e Rebeca Grynspan, secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre comércio e desenvolvimento (Cnuced).
Estes contactos, indicou, permitiram “confirmar uma vez mais que se as exportações comerciais de produtos ucranianos são feitas a um ritmo sustentado e implicam benefícios consideráveis para Kiev, (mas) as restrições impostas aos exportadores agrícolas russos ainda permanecem”.
Este acordo, assinado em julho de 2022 por 120 dias entre as Nações Unidas, Ucrânia, Rússia e Turquia teve por consequência limitar a grave crise alimentar mundial provocada pela invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro. Foi prolongado em novembro por mais 120 dias e até ao momento permitiu exportar mais de 24 milhões de toneladas de cereais a partir de portos ucranianos, segundo a ONU.
A China é o primeiro destinatário das exportações efetuadas no âmbito do acordo, a Espanha o segundo e a Turquia o terceiro.
Na semana passada, a Ucrânia solicitou uma intervenção internacional para manter abertas as vias marítimas no Mar Negro utilizadas para o transporte dos seus cereais, e o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, exigiu durante o G20, no início de março, que Moscovo prolongasse o acordo.
No entanto, a Rússia está insatisfeita com um segundo acordo bilateral assinado com as Nações Unidos e relacionado com as exportações de fertilizantes russos, igualmente em julho de 2022, mas que se prolonga por três anos.
Moscovo tem assinalado que as suas exportações de fertilizantes, um produto de primeira necessidade para a agricultura mundial, estão na prática bloqueadas, apesar de não serem abrangidas pelas amplas sanções impostas pelos países ocidentais desde o início da guerra.
“A ausência de sanções para os produtos agrícolas e fertilizantes, anunciada por Washington, Bruxelas e Londres, está no essencial sem qualquer aplicação”, frisou hoje Verchinine.