Ucrânia: Guterres comprometido em facilitar exportação de cereais e fertilizantes russos

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse hoje estar comprometido em facilitar a exportação de alimentos e fertilizantes russos, após Moscovo aceitar prolongar os acordos do Mar Negro apenas por 60 dias.

Em comunicado, Guterres indicou que as Nações continuam totalmente comprometidas com a Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, assim como com os esforços para facilitar a exportação de alimentos e fertilizantes russos, sublinhando que “fará todos os possíveis para preservar a integridade do acordo e garantir a sua continuidade”.

Equipas da ONU em Genebra receberam hoje uma delegação russa liderada pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Vershinin, para negociar a continuidade dos acordos.

Nesse encontro, a equipa russa indicou que está disponível para um prolongamento desse acordo, mas apenas por mais 60 dias, aguardando alterações ao tratado.

Em julho passado, as Nações Unidas e a Turquia negociaram acordos paralelos com a Ucrânia e a Rússia que permitem, respetivamente, a Kiev enviar alimentos e fertilizantes de três dos portos ucranianos no Mar Negro, e a Moscovo exportar de alimentos e fertilizantes.

O acordo de 120 dias – que ajudou a aliviar parte do impacto do aumento global dos preços dos alimentos – foi renovado em novembro passado, mas expira no próximo sábado, estando em cima da mesa das negociações uma extensão de 120 dias.

Contudo, Moscovo não esconde a sua frustração, alegando que o acordo assinado em paralelo para permitir a exportação de alimentos e fertilizantes russos, usados em todo o mundo, resultou apenas na saída de poucos fertilizantes e nenhuns cereais russos.

Por isso, o Kremlin considera que o acordo deve ser modificado, no futuro, e deu instruções à sua equipa de negociações em Genebra para não aceitar propostas de prolongamento que vão para além de 60 dias.

“A ONU observa o anúncio feito hoje pela Federação Russa sobre uma extensão da Iniciativa de Cereais do Mar Negro por 60 dias”, aponta o comunicado do líder das Nações Unidas.

Sem mencionar as acusações de Moscovo – da falta de implementação de parte do acordo -, Guterres frisou que continua empenhado em fazer com que esses produtos russos sejam exportados sem impedimentos.

“Os dois acordos tiveram um impacto positivo na segurança alimentar global, com milhões de toneladas de cereais a chegar aos mercados globais. (…) A continuação da Iniciativa de Cereais do Mar Negro é crucial para a segurança alimentar global, já que os preços e a disponibilidade de cereais e fertilizantes não voltaram aos níveis anteriores à guerra, causando dificuldades principalmente nos países em desenvolvimento”, argumentou o secretário-geral.

O acordo permitiu a exportação de 24 milhões de toneladas de cereais e mais de 1.600 viagens seguras de navios pelo Mar Negro, com 55% das exportações de alimentos a serem direcionadas para países em desenvolvimento, de acordo com dados da ONU.

Nesse sentido, o Índice de Preços de Alimentos da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) caiu 10 meses consecutivos após ter atingido níveis recordes em março de 2022, “demonstrando claramente o impacto positivo de ambos os acordos nos preços globais de alimentos”, sustentou o ex-primeiro-ministro português.

Por outro lado, o ministro das Infraestruturas ucraniano considerou que a proposta russa de prolongar por 60 dias o acordo contradiz o entendimento inicial que termina no próximo sábado, mas não rejeitou formalmente a proposta de Moscovo.

“O acordo sobre a ‘Iniciativa cerealífera do Mar Negro’ implica no mínimo 120 dias de prolongamento. A posição da Rússia de prolongá-lo por apenas 60 dias contradiz o documento assinado pela Turquia e a ONU [em julho passado]”, considerou em mensagem no Twitter o ministro Oleksandre Kubrakov.

O mesmo responsável disse que a Ucrânia aguarda a “posição oficial” das Nações Unidas e Ancara na qualidade de “garantes da iniciativa”.


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