Num recente debate sobre regadio e sustentabilidade, perguntava-se quais as métricas mais importantes a considerar no uso eficiente da água. Todos sabemos da relevância da agricultura de precisão e das ferramentas de medição com vista à eficiência, e este é um investimento incontornável para os agricultores modernos e capacitados. Mas só por si não chega. A questão da eficiência no uso da água vai muito para além dos sistemas de rega precisos, das sondas de humidade ou dos metros cúbicos consumidos. A água é um fator de produção e a sua gestão deve estar integrada numa estratégia global de sustentabilidade onde as práticas regenerativas têm de ser consideradas. Vejo com entusiasmo que esta é a abordagem seguida pela maioria dos novos investidores. Nas novas áreas de frutos secos, o setor mais dinâmico no panorama nacional, é visível a preocupação com todas as variáveis que devem ser consideradas para cuidar do solo. Um solo saudável é o braço direito da “eficienciocultura”. Porque retém mais humidade, porque drena melhor, porque é mais resiliente e biodiverso, porque é mais produtivo. E é por isso que a conservação dos solos deve ser uma prioridade e uma “métrica” na gestão do regadio.
Sei que não é consensual, mas acredito em agricultura regenerativa em modo convencional. E mais, considero que é mais importante trabalhar na conservação do solo e na eficiência em termos de sustentabilidade do que eliminar radicalmente agroquímicos e adubos de síntese e achar que com isso estamos a fazer tudo bem. As evidências científicas têm-se encarregado de o comprovar. O uso criterioso de pesticidas, com o espectro de substâncias ativas permitidas na Europa, é cada vez mais seguro e menos nocivo para o ambiente. Disse uso criterioso, porque ninguém usa químicos nas suas culturas sem que estes sejam efetivamente necessários. Precisamos de baixar este impacto? Sim, sem dúvida, nisso todos concordamos. Assim consigamos ter as alternativas necessárias, testadas com sucesso, para podermos promover a mudança sem colocar em risco a segurança alimentar. E isso leva tempo e muito conhecimento que ainda não dispomos, mas vamos chegar lá. Mas de nada serve prescindir de agroquímicos se não começarmos a investir fortemente na conservação e regeneração do solo. E não há que ter medo das palavras.
#agricultarcomorgulho
“De nada serve prescindir de agroquímicos se não começarmos a investir fortemente na conservação e regeneração do solo.”
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.