David Neves

A cerca sanitária que se exige – David Neves

Não é novidade para ninguém que o setor agroalimentar é aquele que melhor está a ultrapassar o período pandémico tendo, inclusivamente, conseguido crescer no valor das suas exportações. Se em 2019 o agroalimentar era o quarto principal exportador de bens em Portugal, com uma quota de 12,2% correspondente a 7,3 mil milhões de euros, em 2020 passou para o segundo posto totalizando 7,5 mil milhões de euros e um peso relativo de 13,9%, sendo mesmo o único grupo de produtos com uma variação homóloga positiva entre as 11 categorias consideradas pelo INE.

Neste particular, a fileira da carne de porco destaca-se pelo seu desempenho no comércio internacional com um aumento das exportações de 44,2% em valor e de 40,9% em volume face a 2019, fazendo do ano 2020 o melhor ano de sempre do setor no que respeita a transações com o exterior em suínos, carne de porco e seus derivados.

Mesmo num contexto de pandemia, a fileira da carne de porco superou-se graças ao empenho dos seus operadores e à dedicação de todos os agentes envolvidos na cadeia de valor que resultou numa alteração do paradigma da produção nacional que os mais recentes indicadores relativos ao primeiro trimestre de 2021 revelam ser estrutural e estruturante da fileira.

O caminho de crescimento do setor da suinicultura que se perspetiva para os próximos anos aporta grandes desafios para os seus representantes, nomeadamente conciliá-lo com as agendas políticas europeias e nacionais para os próximos anos ou resolver problemas que têm condicionado o setor nas últimas décadas, como as questões da morosidade dos processos relacionados com o licenciamento das explorações suinícolas.

Mas, aos vários desafios que o setor da suinicultura já tinha, e aos quais a FPAS tem procurado ao longo dos anos encontrar soluções, seja para as questões ambientais, seja para as questões do bem-estar animal, seja para as questões da qualidade da carne, junta-se aquele que é o desafio de uma geração para quem opera na área da produção animal: a comunicação.

Numa era em que o consumidor de bens e serviços se converteu paralelamente em consumidor de informação (em grande parte errada) sobre os mesmos bens e serviços, não tenhamos dúvidas que no século XXI o investimento em comunicação é cada vez mais uma rubrica indispensável nas contas de exploração e imputável aos custos de produção.

Este é um desafio que se coloca transversalmente a todo o setor agropecuário e agroindustrial que se vê confrontado com uma agenda hostil dirigida à economia rural, sucedânea de movimentos neoambientalistas à escala global que têm feito reféns na classe política.

É certo que encontramos no setor oportunidades de melhoria, mas encontramos muitos mais exemplos de boas práticas produtivas, pelo que o foco na árvore é apenas revelador da desflorestação intelectual que caracteriza as forças que se movem contra a pecuária.

Foi com o compromisso de melhor comunicar com o consumidor que a FPAS já se começou a posicionar há alguns anos, procurando agora reforçar a sua estratégia. Foi com o intuito de melhor comunicar que nasceu o programa de certificação “Porco.PT”, foi com o mesmo intuito que nos associámos à campanha Let’s Talk About Pork e é também tendo em linha esse objetivo que integramos entusiasticamente a FILPORC – Associação Interprofissional da Fileira da Carne de Porco.

Servirá também o propósito de melhor comunicar com a sociedade o desenvolvimento de projetos estruturantes para o sector como a certificação em bem-estar animal, o roteiro ambiental e o centro tecnológico para a suinicultura.

Estamos a fazer o nosso trabalho e as organizações representativas das várias fileiras do agroalimentar estão também a fazer o seu trabalho, mas sozinhos e dispersos não vamos ser bem-sucedidos. Importa desenvolver uma estratégia de comunicação pró-ativa e positiva que passe por uma maior intervenção do Ministério da Agricultura, uma maior união das organizações da fileira agropecuária e agroindustrial e uma maior mobilização dos produtores para estabelecer relações de confiança e transparência com os consumidores.

Rejeitamos a criminalização do sector, rejeitamos ter vergonha por alimentar o mundo e rejeitamos diabolizar os consumidores pelas escolhas que fazem. Seria de extremo benefício para o país que o nosso Governo também o rejeitasse enfaticamente ao invés de mercadejar o sector nas sucessivas negociações do Orçamento de Estado.

Se do lado das organizações agropecuárias é necessária melhor comunicação, do lado do poder político deve ser exigido o estabelecimento de determinadas cercas sanitárias, sob pena de vermos desaparecer do nosso país um sector com a relevância económica, social e territorial como é a agropecuária.

David Neves

Presidente da FPAS


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