IACA

A conjuntura difícil da Alimentação Animal e da Pecuária será uma prioridade da Presidência Portuguesa da UE?

Tivemos esta semana mais uma reunião da Task Force da FEFAC COVID-19 que passou em revista as principais decisões do Conselho Agrícola, numa altura em que se assiste a uma escalada nos preços das principais matérias-primas para a alimentação animal. Por outro lado, o IGC reviu em baixa as suas estimativas para a produção mundial de cereais, devido a uma quebra nas previsões na produção de milho para a campanha 2020/21. De resto, em linha com as estimativas da União Europeia.

Foram ainda manifestadas as preocupações com o Brexit (embora seja provável um acordo, temos de nos preparar para o “no-deal”) e com as retaliações entre a União Europeia e os EUA, seja na taxa de 25% que é imposta às importações de milho, sejam as tarifas recentemente exigidas pela UE às importações dos EUA e que afetam matérias-primas importantes como os trigos e, sobretudo, os melaços.

A IACA continua preocupada com a questão da metodologia do cálculo dos direitos de importação dos cereais (base do milho norte-americano) mas receamos que a proposta FEFAC/COCERAL não tenha o acolhimento da Comissão, pela oposição de alguns Estados-membros.

De qualquer modo, está agendada para breve uma reunião com os responsáveis da DG AGRI sobre a situação dos mercados, ao mesmo tempo que decorrem contactos com a COCERAL e o COPA/COGECA sobre a monitorização dos setores e eventuais apoios à pecuária, como por exemplo, ajudas à armazenagem privada na carne de porco, carne de bovino e frango. No entanto, por agora, a Comissão afasta essa possibilidade (admite na carne de porco) e vai avaliando os mercados. O COPA/COGECA defende ainda a rápida introdução das PAT (farinhas de carne).

Outras preocupações que marcaram a semana que hoje termina são o avanço dos problemas sanitários em alguns países da União Europeia, como a Peste Suína Africana (Alemanha, Polónia) e de gripe aviária (Holanda, Polónia) que, ao colocarem em causa as exportações, contribuem para desequilibrar todo o mercado europeu, incluindo naturalmente o nosso.

A situação é séria e a conjuntura do setor, com matérias-primas em alta e preços da pecuária em quebra, fruto da redução da procura pelas limitações do canal HORECA e de restrições aos movimentos das populações, é muito preocupante em todos os países da União Europeia. A introdução de vacinas é de facto um fator positivo mas é evidente que a retoma vai demorar muito tempo e os apoios da Europa tardam em chegar.

A IACA continua muito preocupada com a alta de preços das matérias-primas – sobretudo cereais e soja -, escassez de bagaço de girassol, receios de incumprimentos de contratos (o que se tem verificado em alguns países do Mar Negro e no Báltico), com preços dos produtos de origem animal em baixa e sem grandes possibilidades de aumentos devido à pressão das cadeias de distribuição (para além das promoções) e à redução do consumo.

Para já, a FEFAC vai continuar insistir nestas questões junto das autoridades europeias, estando em contacto com as diferentes organizações da Fileira, a montante e a jusante do nosso Setor.

Aqui reforçamos o apelo a que UE e EUA se entendam rapidamente para que terminem as retaliações comerciais para as quais o setor agroalimentar em nada contribuiu mas que nos tem penalizado. Também neste contexto, o acordo do Brexit é ainda mais importante.

Tendo presente toda esta complexidade e desafios, a Presidência portuguesa será ainda mais decisiva. Não conhecemos ainda as principais prioridades mas esperamos que a situação da Fileira Pecuária, incluindo naturalmente as preocupações da Indústria da Alimentação Animal, sejam consideradas porque vamos ter um primeiro semestre de 2021 muito difícil. Sob pena de fragilizarmos ainda mais um Setor essencial do agroalimentar, tornando-nos ainda mais dependentes do exterior. E com isso arrastarmos uma parte importante da nossa agricultura e do mundo rural.


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