Diretora de Sustentabilidade da Sovena revela que os custos com a energia térmica quadruplicaram. Este e outros fatores estão a pesar nos preços do óleo e azeite, que devem manter-se elevados em 2023.
A Sovena reforçou a sua estratégia de sustentabilidade para os próximos anos e elegeu, em julho, uma nova diretora para assumir as rédeas. Joana Oom de Sousa revela em entrevista ao ECO/Capital Verde que além do foco no ambiente, a gigante agroalimentar pretende reforçar o plano de ação dedicado às pessoas e comunidades locais, isto numa altura em que a perda de rendimentos e o aumento do custo de vida compromete o bem-estar dos consumidores. “A crise é uma verdadeira preocupação social”, diz, assumindo que o preço do azeite e do óleo aumentou e deverá manter-se alto em 2023.
Mas além de afetar as pessoas, a crise, potenciada pela guerra na Ucrânia, teve impactos “grandiosos” nos custos operacionais da fábrica de Palença, em Almada. Segundo a responsável, a fatura da energia térmica quadruplicou — valor que não pode ser mitigado pelos apoios do Governo uma vez que a fábrica não está elegível, já que os apoios em vigor são dirigidos aos consumidores de eletricidade e gás. No entanto, garante que produção nunca abrandou e, comparativamente ao setor, os aumentos mantiveram-se inferiores. Para a gigante agroalimentar, dona dos óleos Fula e azeites Oliveira da Serra, a prioridade é assegurar o compromisso com os clientes “ainda que os custos tenham aumentado consideravelmente”.
Sendo a Sovena uma produtora agroalimentar eletrointensiva, de que forma sentiram impactos com a crise energética?
A crise energética e o aumento dos custos tiveram, claramente, impactos na nossa atividade. Na nossa fábrica em Palença, somos eletrointensivos. Temos consumos bastantes consideráveis. E, o aumento dos custos energéticos teve implicações diretas e indiretas.
De que tipo de aumentos estamos a falar?
Para dar um exemplo, na nossa fábrica, em Palença, os custos da energia térmica aumentaram quatro vezes quando comparado com o ano anterior. Quando os custos de energia têm um peso bastante significativo nos custos operacionais, isto tem um impacto grandioso nas contas.
E abranda de alguma maneira a produção?
Não, torna-a mais cara. Nós, neste momento não reduzimos a produção. Estamos, felizmente, a conseguir mantê-la nos níveis a que estamos habituados porque a nossa grande preocupação é satisfazer os compromissos que temos com os nossos clientes — ainda que os custos tenham aumentado consideravelmente.
Os apoios à energia que o Governo disponibilizou ajudaram de alguma maneira a minimizar os impactos?
Infelizmente, a redação atual desse mecanismo de apoio ao gás não permite que os apoios sejam suficientes, nomeadamente, para a fábrica de Palença, que é bastante consumidora de energia térmica. Queremos acreditar que alguma coisa terá que mudar, porque coloca em causa a competitividade, neste caso da Sovena e desta fábrica, relativamente a outros que tenham outro tipo de apoios ou que não tenham estes custos tão elevados. É uma preocupação.
Porquê?
A razão é bastante simples: a Sovena adquire energia térmica, a vapor, a uma entidade terceira que é especialista na gestão de caldeiras. E essa energia térmica que nós compramos é totalmente indexada ao gás. Nós somos compradores indiretos de gás e por essa razão acabamos por não estar abrangidos pelo apoio. Nem nós, nem a entidade terceira. Estamos a ser penalizados e por isso esperamos que eventualmente alguma coisa possa mudar.
Mas, precisamente por sermos uma empresa que consome bastante energia, temos vindo a apostar em projetos de maior eficiência energética. A crise permitiu acelerar a implementação de alguns projetos e antecipar outros que estavam em pipeline.
Estamos, felizmente, a conseguir manter a produção aos níveis a que estamos habituados porque a nossa grande preocupação é satisfazer os compromissos que temos com os nossos clientes.
Joana Oom de Sousa, diretora de Sustentabilidade da Sovena
E existe algum risco de comprometer os projetos de transição energética?
Em princípio não. Espero que não. Os projetos de eficiência energética e descarbonização já estão em curso e surgem em paralelo com esta crise exatamente para reduzir a dependência do gás natural. A produção eficiente de baixo em carbono, é […]