Sou Domingos dos Santos, tenho 55 anos, sou agricultor, administrador de uma Organização de Produtores e dirigente associativo e é nessa condição que manifesto a minha grande preocupação com este momento de crise que estamos a viver, mas também me preocupa muito os momentos que virão, os momentos pós-crise, nomeadamente qual vai ser o papel da agricultura, no abastecimento da cadeia alimentar, na preservação do ambiente, no ordenamento do território, na manutenção dos postos de trabalho e na economia do país.
O momento que vivemos é muito difícil e desafiante, estamos perante um grave problema de saúde pública que vai desencadear uma grave crise económica.
Após a grande crise económica e financeira da passada década, que ainda não está totalmente ultrapassada, o sector agrícola foi muito importante para ajudar o País a sair da estagnação no investimento, os agricultores e empresários agrícolas fizeram com que a agricultura, fosse um dos sectores que mais investiram naquela fase. Com esses investimentos reduziu-se drasticamente o défice da balança de transacções correntes no sector agro-alimentar, introduzimos tecnologia de ponta para melhorar o desempenho da actividade, económico e ambiental, contribuímos para baixar a taxa de desemprego, aproveitamos mais água, fixamos pessoas nas suas regiões, enfim temos feito aquilo que é o nosso dever.
No entanto após o aligeirar a crise, o sector agrícola foi o mais penalizado. A rentabilidade das explorações e dos agricultores é mais baixa em 2020 do que em 2010, em contrapartida todos os outros sectores da economia recuperaram a rentabilidade. A agricultura é constantemente desconsiderada e relegada para um plano secundário, nas decisões politicas, acusada de ter um grande impacto negativo no ambiente, o que não é verdade a agricultura continua a dar um contributo para a preservação do meio ambiente e ordenamento do território, para alguns grupos de pseudo-ambientalistas os agricultores são considerados criminosos. São vedados os acessos a recursos naturais que se perdem, como por exemplo a água. Os agricultores são acusados de viverem de subsídios, quando estes têm como objectivo, garantir o abastecimento da cadeia alimentar com produtos de qualidade a baixo preço e ambientalmente sustentáveis. Os grandes beneficiários dos subsídios não são os agricultores mas sim os consumidores, pois têm disponíveis alimentos a preços mais baixos que por vezes o custo de produção.
Os agricultores são pessoas de bem e como tal exigem respeito. Como cidadão, agricultor e dirigente associativo exijo que no pós crise a agricultura seja tratada e respeitada de igual modo que as outras actividades económicas, não podemos ser maltratados pelo Ministério do Ambiente, não podemos ser desconsiderados pelos organismos do Ministério da Agricultura ou outros, não podemos deixar que pseudo-ambientalistas desonestos ponham em causa a nossa actividade, não podemos permitir que os nossos produtos sejam utilizados para alavancar margens de negócio que não sejam as corretas e aceitáveis, não podemos tolerar que os nossos produtos sirvam de isco para atrair clientes aos pontos de venda por parte de alguns operadores, em resumo não podemos deixar que o sector empobreça mais e no futuro se torne pouco atractivo a novos investimentos produtivos, até porque se queremos mais jovens na agricultura para rejuvenescer o tecido empresarial agrícola temos o dever de lhes proporcionar um futuro com dignidade e respeito.
Nestes momentos de crise global, a agricultura mais uma vez é chamada a dar o seu contributo e nós agricultores dizemos “presente”.