Lido o artigo de opinião publicado recentemente neste espaço e intitulado “Beterraba sacarina: Terá sentido relançar a sua produção em Portugal?”, vem a ANPROBE liminarmente rejeitar a análise transcrita, a qual induz o leitor e os players do sector agrícola menos atentos a formularem uma linha de pensamento que, salvo melhor opinião, é contrária à realidade, às necessidades estratégicas do País e, fundamentalmente, a um sector agrícola carente de soluções económicas e agronómicas.
A ANPROBE sempre acompanhou a evolução do mercado comunitário e mundial do açúcar, participando activamente na discussão das políticas que originaram as diversas reformas que o sector passou, em especial na última e a causadora do final da cultura, apesar de a Associação ter combatido, até à exaustão, contra uma errada política comunitária.
20 Anos de excelente relacionamento com as diferentes instituições nacionais e internacionais, bem como de estreito envolvimento em torno da organização comum de mercado do açúcar em todas as suas vertentes, incluindo os diferentes acordos de parceria económica, permitiram à ANPROBE acumular uma fonte de conhecimento, de inegável valia, em torno da beterraba.
Infelizmente, o artigo referido pretende contrariar os fundamentos apresentados numa Resolução da Assembleia da Republica, a qual insta o governo a tomar as medidas necessárias à reintrodução da cultura da beterraba sacarina em Portugal baseada em três pontos fundamentais:
a cultura da beterraba sacarina é uma alternativa bastante vantajosa para os agricultores portugueses;
o relançar desta cultura vai contribuir para o aumento da produção agrícola nacional;
a substituição da produção de açúcar de cana por açúcar de beterraba constituirá um contributo para o aumento da nossa auto-suficiência alimentar”.
Devido à sua excelente adaptação às nossas condições climáticas, a beterraba tornou-se numa cultura essencialmente outonal, entrando na rotação com os cereais de inverno, demonstrando uma enorme economia de água, quando comparada com culturas primaveris, e libertando dois subprodutos de elevada importância: o Calcário – correctivo de solos e as Polpas – Alimento animal.
Assim, a beterraba foi, e será sempre, uma importante alternativa a introduzir numa racional rotação cultural, evitando o proliferar de sistemas monoculturais, com evidentes prejuízos económicos e ambientais. Além disso, e ao que tudo indica, revela-se de extrema importância para a implementação do novo conceito de “Greening”, defendido na proposta de Reforma da PAC – Pós 2013.
Tanto quanto se conhece, dos cerca de 27.000ha que se encontram a regar nas novas áreas regadas pelo sistema de Alqueva apenas cerca de 10% têm sido afectos à cultura do milho. Sabe-se, também, que em 2012 entrarão em produção mais cerca de 16.000ha, o que exigirá a introdução de culturas de reconhecida adaptação e capazes de maximizar os investimentos efectuados, contribuindo, assim, para um significativo aumento da produção nacional e consequente redução do deficit da balança comercial.
É também de muitos conhecido que a produtividade média portuguesa de beterraba por hectare se encontrava no topo do ranking das produtividades mundiais nos últimos anos da sua produção. Estes resultados só foram possíveis graças a um meticuloso trabalho de experimentação/investigação desenvolvido pela ADB – Associação para o Desenvolvimento da Beterraba financiada unicamente pelos Produtores e pela DAI e, em muito, responsável pela duplicação da produção média por hectare em apenas 10 anos.
Efectivamente, a última reforma do sector da beterraba veio a estabelecer um preço mínimo de 26,8€/tonelada. No entanto, e decorrente das condições do mercado, têm-se praticado, nos últimos anos, preços da beterraba em torno dos 40€, sem se ter em linha de conta os programas de ajudas directas previstas na regulamentação comunitária.
É importante esclarecer que os 43,8 milhões de euros alocados à fileira no âmbito do programa de reestruturação, não significando forçosamente que tenham sido recebidos, não provieram nem dos cofres da UE, nem dos bolsos dos contribuintes. A reestruturação do sector foi paga, integralmente, com dinheiro do próprio sector e num quadro até 2015, Além disso não se vislumbrando qualquer hipótese de devolução por alteração das condições de aplicação.
Paralelamente, a indústria da refinação de cana recebeu 24,4 milhões de euros, cuja aplicação os produtores de beterraba nunca souberam a que se destinavam, embora tenha passado a fazer exactamente o mesmo que fazia.
Números recentes indicam que o mercado mundial exige da produção mais 2 milhões de toneladas de açúcar por ano. Este número, apenas poderá ser alcançado através de programas de retoma de produção, investigação/experimentação, visando a melhoria contínua da produtividade, o investimento e o aproveitamento de infra-estruturas.
Finalmente, e pelas suas características, a actividade de refinação revela-se, também ela, de enorme importância. A ANPROBE é da opinião de que a indústria da refinação terá, no entanto, que efectuar um esforço de melhoria da sua competitividade em cenários de preços de mercado mundial elevados, situação que se vem verificando há longos meses, e que ninguém arrisca rotular se se trata de uma situação estrutural ou conjuntural.
A Direção
ANPROBE – Associação Nacional dos Produtores de Beteerraba