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A importância dos cogumelos para travar a desflorestação

Será possível produzir alimentos para uma população mundial em crescimento e, ao mesmo tempo, travar a perda de floresta que resulta da sua conversão em áreas agrícolas? Um novo estudo científico reforça esta possibilidade, destacando a importância dos cogumelos.

Um estudo científico recente destaca a importância dos cogumelos como parte da solução para conter a desflorestação. Publicado no Science of the Total Environment, aponta a inoculação de um destes fungos em zonas florestadas como caminho para conciliar a produção de alimentos com a conservação das florestas, o sequestro de carbono e a preservação da biodiversidade.

Os resultados são animadores, em particular se tivermos em conta que, nos últimos 30 anos, foram perdidos 178 milhões de hectares (ha) de área florestal. Só entre 2015 e 2020, a taxa de desflorestação foi estimada em cerca de 10 milhões de hectares por ano. Recorde-se que a necessidade de áreas agrícolas – para cultivo e pecuária – tem sido apontada como a principal causa de conflitos relacionados com o uso do solo e um dos principais fatores de desflorestação.

Se é verdade que as propriedades nutritivas dos cogumelos há muito lhes deram o estatuto de aliados na saúde e culinária, este novo estudo conclui que inocular árvores, preferencialmente de espécies nativas, com este cogumelo comestível pode produzir mais proteína por hectare do que é possível com a criação extensiva em pastagens de carne bovina. Isto, além de permitir armazenar carbono e contribuir para objetivos de conservação e restauro da biodiversidade.

A importância dos cogumelos nesta solução passa por um fungo específico: o Lactarius indigo, uma espécie comestível – muito consumida no México -, facilmente reconhecível pela sua cor azul índigo, tonalidade pouco comum nas florestas.

Segundo o estudo, verificou-se que a inoculação deste cogumelo específico em troncos permite produzir 7,3 kg de proteína por hectare (assumindo uma produção de 1089 Kg/ha de cogumelos), em comparação com a produção de carne bovina em pastagens extensivas, que ronda os 4,8 a 7,0 kg.

Estas são razões suficientes para levar os autores do estudo “A novel approach to combine food production with carbon sequestration, biodiversity and conservation goals” a considerar a importância dos cogumelos e a indicá-los como parte da solução para conter a desflorestação. Faltam, no entanto, ações urgentes para promover tecnologias e abordagens emergentes que viabilizem um novo sistema de produção de alimentos com base nesta visão. A urgência de avançar neste sentido é salientada no estudo.

As melhores hospedeiras para os cogumelos

Os cientistas que realizaram este estudo descrevem como cultivaram os cogumelos, desde o isolamento em laboratório até à inoculação em diferentes espécies de árvores, para identificarem aquelas com maior potencial para serem hospedeiras do Lactarius indigo. Entre elas, encontram-se carvalhos (Quercus spp.) e pinheiros (Pinus spp.).

Além dos vários fatores a ter em conta na seleção de árvores hospedeiras adequadas para o cultivo deste cogumelo, o estudo indica que, considerando a variedade de espécies hospedeiras, o Lactarius indigo é um forte candidato a ser cultivado em regiões como a Neártica (que inclui a América do Norte) e a Neotropical (que compreende as Américas central, incluindo o México, e do Sul).

Segundo os autores, um sistema de produção de Lactarius indigo não precisa de ter em vista a taxa de produção mais elevada. Em vez disso, as colheitas podem ser equilibradas, substituindo algumas áreas de produção agrícola por um processo amigo do ambiente, que aumenta a biodiversidade, contribui para objetivos conservação, funciona como sumidouro de gases com efeito de estufa e, ao mesmo tempo, proporciona diversos benefícios socioeconómicos para quem vive nas áreas rurais.

Passar do estudo à implementação no terreno é um investimento urgente, tendo em conta que milhões de pessoas dependem das florestas para a sua subsistência e que o tempo escasseia para travar e mitigar os crescentes impactes das alterações climáticas, alertam os autores.

O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.


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