A Internacionalização do Mercado Vitivinícola – Fernando Bianchi de Aguiar

O mercado do vinho tem acompanhado o progressivo processo de internacionalização / globalização à semelhança de outras produções agrícolas. Uma precisão impõe-se contudo quando se fala da globalização do sector do vinho. Por um lado a globalização dos mercados é um facto incontornável que impõe a todos os actores da fileira esforços acrescidos para garantir uma posição competitiva, por outro lado a globalização da produção, realidade bem diferente.

Com efeito o vinho não é uma mercadoria qualquer, não pode ser produzida em qualquer lugar e deve obedecer a regras bem mais complexas do que a simples minimização dos custos de produção. A localização das vinhas, à semelhança de qualquer outra unidade de produção, está submetida à regra das vantagens comparativas; cada região tem as suas e são bem mais importantes e determinantes da sua imagem e posição no mercado que unicamente os custos de produção.

A redução do consumo de vinho nos países produtores europeus e o crescimento progressivo do consumo de países não produtores, tanto europeus como noutros continentes, com algum destaque para a Ásia, têm constituído um dos factores determinantes do aumento de trocas internacionais. Acresce a este facto o aumento da capacidade produtiva dos chamados países do “novo mundo vitícola” com a contribuição do Hemisfério Sul, essencialmente Chile, África do Sul e Austrália, que com os EUA têm marcado a produção mundial com volumes importantes destinados aos mercados externos.

Este alargamento do mercado tem permitido nos últimos anos compensar a quebra de consumo dos mercados tradicionais, resultantes quer da alteração dos hábitos de vida quer fruto das pressões das campanhas anti-alcoólicas, que centram de forma insistente a sua comunicação em torno do vinho.

No período 1981/85 o mercado mundial do vinho cifrava-se em 49,5 milhões de hl – valor que corresponde à soma dos volumes de exportação (ver Quadro I/2.). Após uma ligeira retracção no período 1986/90 temos assistido a um aumento constante desse valor, situando-se em 1998 em torno dos 66 milhões de hl.

Quadro I
Transações mundiais no consumo mundial de vinhos 

Unidades: 106 hl

81/85 86/90 91/95 1996 1997 Prev. 1998
1. Consumo Mundial 280,5 237,0 224,3 221,4 223,5

220,3 a 228,8

2. Mercado Mundial 49,5 44,2 51,1 57,8 64,2 65,3 a 66,7
3. 2/1 (%) 17,6 18,6 22,8 26,1 28,7 28,5 a 30,3

Fonte: OIV

Utilizando os dados do consumo mundial como referência (quadro II/1.) a percentagem de consumo de vinhos “não autóctones” (vinhos consumidos fora dos países de produção), subiu de 17,6% no início do período em análise para um valor próximo de 30% em 1998.

Se analisarmos a origem das transações por países exportadores podemos distinguir 3 grandes grupos com comportamentos distintos (quadro II).

Os 5 principais países exportadores da Europa (França, Espanha, Itália, Alemanha e Portugal) representam actualmente 71% do mercado mundial com 42,9 milhões de hl (média do período 96/98). Comparando com a média de 81/85, constata-se uma perda de 5% no peso relativo do mercado mundial, embora se verifique um aumento em termos absolutos (+5,5 milhões de hl).

Quadro II
Volumes Exportados e % mercado mundial 

Unidades: 106 hl

 

5 > UE15

Hem.Sul
+ EUA
Peco +
Magrebe
Mercado Mundial
81-85 Vol
%
37,4
76,0
0,7
2,0
7,0
14,0
49,5
86-90 Vol
%
34,3
78,0
1,4
3,0
4,9
11,0
44,2
91-95 Vol
%
36,7
75,0
4,0
9,0
2,4
5,0
51,1
96-98 Vol
%
42,9
71,0
7,2
14,0
4,5
6,0
62,7

Fonte: OIV

O 2º grupo de países representa o “novo mundo vitícola” e inclui os principais exportadores: a Argentina, o Chile, a África do Sul, a Austrália e os EUA. Este grupo encontra-se em franca expansão: passa de 2% para 14% na quota relativa do mercado mundial, o que corresponde a multiplicar por 10 o seu volume de exportações (0,7 e 7,2 milhões de hl, respectivamente no início e fim do período).

Em sentido contrário evoluíram as exportações dos PECO (países da Europa Central e Oriental, representados nesta análise pela Bulgária, Hungria e Roménia) e dos países do Magrebe (Argélia, Tunísia e Marrocos). Reduziram o seu volume de exportação de 7,0 para 4,5 milhões de hl no período em análise, o que corresponde a uma quota actual em torno dos 6% contra 14% no quinquénio 81/85.

Portugal foi, em 1997, o 4º maior exportador europeu em volume de exportação e 5º mundial. Os dados de 1998 apontam para uma redução importante dos volumes de exportação, resultado essencialmente de uma situação conjuntural de perda de produção. No início dos anos 70 exportávamos, em média, 2 milhões de hectolitros (5% do mercado mundial), tendo atingido em 1997 o volume de 2,4 (3% do mercado mundial), ritmo de crescimento inferior ao aumento do mercado.

A diversidade e tipicidade dos nossos vinhos são vantagens comparativas significativas para o reforço da nossa quota no mercado internacional. A eficiência da estrutura produtiva é contudo fundamental, mesmo se a nossa competitividade não esteja unicamente centrada nos custos de produção.

Portugal é o país vitícola do mundo que dedica à viticultura a maior percentagem da sua superfície agrícola útil, aproximadamente 9%. Bastará este indicador para pôr em relevo a importância do sector no contexto da agricultura portuguesa. Dois outros dados revelam contudo uma fraqueza no campo da eficácia do sistema produtivo: um baixo rendimento por hectare (um dos mais baixos no panorama mundial) e uma variação inter-anual de rendimento muito acentuada (os últimos três anos são a prova cabal deste facto).

Existe por conseguinte um importante trabalho de modernização a realizar na nossa viticultura, não obstante os avanços verificados nos últimos anos, que se concretizam contudo a um ritmo insuficiente face aos desafios que o crescimento do mercado mundial nos coloca.

Um outro campo de actuação deverá ser o reposicionamento da imagem dos vinhos portugueses. A acção da ViniPortugal, em articulação com o trabalho de promoção das empresas portuguesas já presentes no mercado mundial, constitui um instrumento fundamental para o bom posicionamento dos excelentes vinhos portugueses no difícil mercado mundial do vinho.

28/02/2000

Fernando Bianchi de Aguiar
(Presidente do Office International de la Vigne et du Vin)


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