Uma abordagem que vem sendo utilizada para manipular a biodiversidade agrícola é a chamada interplantação ou “intercropping”, que consiste na combinação de duas ou mais culturas na mesma parcela. Embora esta abordagem já tenha vindo a ser aplicada há várias décadas em diferentes sistemas de produção (e.g. olival com cereal em subcoberto), são ainda pouco conhecidos os seus efeitos. Estudos realizados em vinhas, demonstraram a capacidade de determinadas plantas produzirem substâncias químicas que ao serem libertadas no ambiente, influenciam de forma favorável o desenvolvimento da videira (também designado por efeito alelopático) ou que funcionam como repelentes de pragas ou de agentes patogénicos. Da mesma forma, são igualmente conhecidos os efeitos potenciadores da interplantação sobre a entomofauna auxiliar, nomeadamente sobre os polinizadores e inimigos naturais de pragas ou ao nível do microbioma do solo.
Neste âmbito, o InnovPlantProtect iniciou em 2022, em colaboração com João Portugal Ramos Vinhos SA e a Associação de Viticultores do Concelho de Palmela, um plano de trabalhos experimentais onde serão monitorizados os efeitos da interplantação com plantas aromáticas como uma nova abordagem para o controle da cigarrinha-verde (Jacobiasca lybica e Empoasca spp) em vinhas. Os trabalhos de campo que contam com a participação de estudantes da Escola Superior Agrária de Elvas, iniciaram-se em Abril de 2022, com a seleção de oito parcelas experimentais, seis na região Alentejo, em Estremoz e duas na Península de Setúbal, em Pegões. Todas as parcelas encontram-se plantadas com a mesma casta e recebem rega gota-a-gota, tendo sido instaladas duas combinações de plantas aromáticas.
Este estudo tem dois objetivos. O primeiro é investigar a contribuição da interplantação como uso agrícola potenciador do controlo das infestações de cigarrinha-verde, quer através de um eventual efeito repelente das plantas aromáticas quer pelo incremento das populações de entomofauna auxiliar e do potencial de controlo biológico. Para além do acompanhamento da dinâmica populacional da cigarrinha-verde, as amostragens contemplam a monitorização das populações de inimigos naturais das cigarrinhas, tais como predadores e parasitoides, através de várias técnicas de amostragem a diferentes escalas (parcela experimental, videira e planta aromática). Paralelamente, esta informação permitirá aperfeiçoar os modelos preditivos baseados em variáveis meteorológicas e de uso do solo elaborados nos trabalhos de 2021, de forma a permitir a deteção precoce das infestações.
O segundo objetivo, consiste em avaliar de que forma é que esta técnica de cultivo pode contribuir para a melhoria dos indicadores de produtividade e de qualidade vitivinícola, estando previstas para o efeito, análises laboratoriais regulares dos principais parâmetros indicadores (pH, acidez e álcool provável). Os primeiros resultados são esperados para o final do verão 2022.
O artigo foi publicado originalmente em InnovPlantProtect.