Sobre a polémica da semana (programa Linha da Frente, da passada quinta-feira, em jeito de manifesto animalista), penso que é muito util ler ou reler as palavras de João Villalobos, consultor de comunicação, na revista produtores de leite nº21 (março 2020):
“Há uma guerra já a suceder em nosso redor. Envolvendo-nos e impactando-nos, quer nós queiramos quer não. Uma guerra que não é fria nem surda, mas antes sanguínea e gritante entre realidade e falsidade, entre ciência e desinformação, envolvendo interesses e forças muitas vezes obscuras que surgem não apenas nas redes sociais mas também nas notícias dos media tradicionais, repetindo dados erróneos, imagens chocantes descontextualizadas e seguindo uma agenda que, de forma muitas vezes difusa, coloca em causa atividades económicas e sectores produtivos, independentemente da sua dimensão.
As “notícias falsas” atravessam a Internet de todas as formas e a agricultura e o sector de produção animal não só não são imunes a elas, como são um dos seus principais alvos. Em 2018, uma página do Facebook que surgia como estando sediada na Austrália era intitulada “Os animais também são pessoas”. Dessa página, o que foi partilhado em todo o mundo foi um post intitulado “Triturador de Vacas”, onde um bovino podia ser visto deitado de lado numa rampa de aparo de cascos. A legenda da foto dizia: “Trituradores de vacas projetados para esmagar vacas até a morte é uma coisa horrível, mas este é um nível totalmente novo de tortura para vacas! Este dispositivo LITERALMENTE esmaga o pobre animal enquanto o gira para cima, para baixo, de um lado para o outro num movimento rápido controlado por uma grande máquina de trator, agitando-o com HORROR! Este não é um parque temático! Esta pobre vaca não tinha esperança, o sangue teria corrido para a sua cabeça até ela desmaiar e quem sabe o que fizeram ao pobre animal depois disso. Tudo o que sei é que ela está morta agora e provavelmente está coberta de urina.»
Dado o sítio para onde escrevo, estou certo de que será desnecessário explicar a incongruência de tudo isto, assim como estou certo de que já leram, viram, se depararam, com idênticos se não mesmo piores exemplos de manipulação ou, como agora se diz e erradamente, “fake news”.
Na verdade, não são “news” de forma alguma. São ataques organizados, numa altura em que parece surgir a tempestade perfeita para os produtores, em especial em Portugal. O crescimento de um partido com uma agenda política difusa, anti o consumo de proteínas animais, anti isto e aquilo. O apoio pelo menos verbal do Governo para alinhar com essa agenda (vide a questão do IVA nas touradas) e o sentimento de uma geração que – formada pelas redes sociais e por notícias sem base científica – se manifesta identificando causas reais, como as modificações climáticas, com outras que carecem de verdade e de base.
Contra tudo isto, como tive oportunidade de dizer no Congresso Nacional do Leite (obrigado APROLEP e Carlos Neves), só se pode combater de forma igualmente profissional. Quer queiram quer não, vós produtores têm que se aperceber de uma coisa: Terão que alocar recursos a formas profissionais de comunicação que permitam – mais do que combater os ataques alheios – difundir os vossos conteúdos, a vossa verdade e os vossos valores acrescentados para os cidadãos de uma forma equiparada à dos vossos inimigos. Porque é isso mesmo que eles são.
Para tal, é necessário alinhar alguns fatores. Para começar, que estejam de acordo com as mensagens a transmitir. Depois, que saibam reunir os necessários recursos para veicular essas mesmas mensagens. E, principalmente, que compreendam que a razão, por si, só não serve. Que os conteúdos a difundir, as vossas histórias, precisam de recorrer à emoção, com uma positividade que ultrapasse e vença a negatividade comunicada pelos inimigos. Boas histórias, bem apresentadas, profissionalmente tratadas, que espelhem a vossa realidade como ela é mas de uma forma que, como dizia outrora na sua campanha a primeiro-ministro de Portugal o atual secretário-geral da ONU, juntem a razão e o coração. O tempo urge. E o que se passa afeta de forma profunda o vosso presente e o vosso futuro. Por cada dia que passa sem investirem na vossa comunicação, mais as vossas vacas são trituradas na máquina impiedosa das mentiras.”
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.