
Quando lê um livro, come uma pastilha elástica, coloca um perfume ou conduz o seu carro, provavelmente não imagina que um único elemento natural pode estar presente em todos esses produtos: a Resina Natural.
Discreta, mas versátil, esta matéria-prima é essencial para inúmeros setores, das colas aos pneus, das tintas aos cosméticos, dos adesivos a novas formulações que integram vários artigos do setor têxtil, calçado, alimentar e automóvel, a Resina Natural está a conquistar um novo protagonismo na era da bioeconomia.
A ligação de Portugal à Resina Natural é histórica. Durante os Descobrimentos, foi indispensável para calafetar embarcações e, no século XX, assumiu grande importância económica e social, colocando o país como o terceiro maior produtor mundial. Com o tempo, a concorrência de países como o Brasil e a China, entre outras contingências económicas e sociais, levaram ao declínio da produção nacional, no entanto, o seu potencial nunca deixou de ser reconhecido.
  O que é a Resina Natural? 
				
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A Resina Natural é um produto biológico extraído do pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e de outras espécies de pinheiro. É um recurso 100% natural, renovável e biodegradável, com propriedades únicas que permitem substituir derivados do petróleo em diversas aplicações industriais.
O processo de produção de resina passa por quatro fases:
1 – Extração: feita por resineiros, diretamente do tronco do pinheiro;
2 – Primeira transformação: a resina é destilada e filtrada, originando dois produtos principais: colofónia (sólido) e aguarrás (líquido);
3 – Segunda transformação: a colofónia e a aguarrás são processadas em fábricas, dando origem a novos derivados.
4 – Aplicações industriais: os derivados resultantes são integrados na elaboração de inúmeros produtos do quotidiano, como borrachas técnicas, tintas, ceras depilatórias e adesivos.
Recentemente, a fileira da Resina Natural, foi selecionada, juntamente com o setor Têxtil e Vestuário e o setor do Calçado e da Marroquinaria, para financiamento na Componente C12 – Bioeconomia Sustentável, do Plano de Recuperação e Resiliência Português, face ao reconhecimento do valor estratégico destes setores.
O reconhecimento desta matéria-prima, a Resina Natural, assenta não só na sua versatilidade e capacidade de substituir recursos fósseis, mas também na sua dimensão social e económica para as regiões do interior. A extração da resina de pinheiro-bravo, atualmente a terceira espécie florestal mais frequente em Portugal, cria emprego, gera rendimento local e contribui para a coesão territorial.
Os resineiros, trabalhadores que extraem a resina de forma sustentável, são uma presença regular na floresta, desempenhando um papel relevante na gestão florestal, em particular, na limpeza de matos e na deteção precoce de incêndios florestais.
O Projeto Integrado RN21, veio revitalizar e modernizar o setor ao longo de toda a sua cadeia de valor. Na produção florestal, o projeto lançou um programa de melhoramento genético para criar árvores com maior produtividade de resina e desenvolveu um novo método de resinagem mecanizado, que reduz o esforço físico dos resineiros e origina uma resina mais limpa e de melhor qualidade. Em paralelo, foi criado um programa de formação para a capacitação de novos profissionais para esta atividade.
O impacto do RN21 estende-se à indústria transformadora, promovendo a robotização, digitalização e eficiência dos processos. À modernização tecnológica juntou-se a criação de novos produtos disruptivos, que abriram portas a mercados antes dominados por derivados de petróleo.
A versatilidade da Resina Natural ficou patente nos resultados alcançados em diferentes setores industriais, onde biopolímeros desenvolvidos com integração de 5 a 30% de derivados de resina foram utilizados para as seguintes aplicações:
- Alimentar e agrícola – desenvolvimento de filmes para embalagens, que ajudaram a aumentar o tempo de prateleira dos alimentos.
- Automóvel – injeção de componentes para o interior automóvel, demonstrando o contributo da resina para o aumento da sustentabilidade do setor.
- Calçado – biopolímeros para a produção de solas, e formulação de novas colas para diferentes aplicações no calçado, reforçando a durabilidade e a performance dos produtos.
- Têxtil e vestuário – aplicações que vão desde fibras produzidas com biopolímeros aditivados com resina, até mordentes naturais utilizados no tingimento, substituindo matérias-primas fósseis. Um dos desenvolvimentos mais promissores foi o uso de derivados de Resina Natural na produção de couros sintéticos, obtendo materiais de elevada qualidade estética e potencial comercial.
Os resultados do RN21 comprovam, de forma inequívoca, o valor desta matéria-prima natural e sustentável para a indústria portuguesa. Num contexto global de consumidores mais conscientes e setores cada vez mais exigentes, a Resina Natural afirma-se como um aliado na transição para soluções de base florestal.