A previsão do tempo – Carlos Neves

A 22 de Setembro, nas primeiras cheias deste Outono em Lisboa, um responsável municipal da Proteção Civil queixou-se de não ter havido alerta para a chuva forte em tempo oportuno. Em resposta, alguém do IPMA, Instituto português do Mar e da Atmosfera (antigo Instituto da Meteorologia e Geofísica) afirmou que teriam telefonado a avisar às 13h15. Creio que a chuva começou pelas 14h00, portanto, mesmo a tempo… Imaginei os meteorologistas a saírem do trabalho para almoçar, olharem para o céu, verem uma nuvem negra e pensarem: é capaz de chover, é melhor telefonar a avisar!…

Falando a sério, admito que tenha ocorrido uma situação excecional e sei que o clima não permite previsões rigorosas, sobretudo em situações de instabilidade. Não foi certamente a primeira vez que choveu acima do previsto, mas foi preciso chover em Lisboa para alguém criticar a sério o serviço meteorológico nacional. Ora, se me permitem, aproveito a boleia para puxar a brasa à nossa sardinha, ou melhor, a chuva para o nosso nabal.

A agricultura precisa da meteorologia mais do que outras atividades. As forragens que cultivo, como o azevém ou o milho, são menos sensíveis que hortícolas, vinha ou fruta, mas precisam de tempo seco nos períodos críticos de colheita e sementeira.

Durante anos, os agricultores, além dos almanaques e da experiência acumulada, só tinham acesso às previsões gerais por região e voltadas para o cidadão urbano que ainda hoje temos na TV, rádio ou jornais. Quando avisam “amanhã pode chover no Norte”, não dizem a que horas começa, que quantidade será ou se chove mais em Coimbra, Valença ou Bragança.

Há 20 ou 30 anos atrás, antes da internet, alguns agricultores ligavam para o aeroporto a perguntar a previsão alargada (semanal) e partilhavam informação. Depois, com a internet, surgiram os primeiros sites de previsão do tempo, grátis e com previsões mais precisas em localização, quantidade de precipitação e horas previstas. Foram entretanto atualizados e até já os podemos ver nos telemóveis de última geração. Alguns que visito diariamente são o
http://www.weatheronline.co.uk/ (mapas de precipitação),
http://www.windguru.cz/pt/ , (previsão cada 3 horas)
http://www.accuweather.com/en/pt/portugal-weather (previsão até 30 dias) ou
http://www.wunderground.com/ (previsões de 10 dias).
Basta ir às páginas da internet e colocar o local mais próximo disponível.

Há poucos anos, o IPMA lançou finalmente uma previsão a 10 dias, por localidades, mas ainda assim sem valores numéricos sobre a chuva e horários previstos. Vejo sempre essa previsão em http://www.ipma.pt/pt/otempo/prev.localidade/ mas continuo sem perceber porque é que o “nosso” instituto, pago com o dinheiro dos nossos impostos, não nos dá as previsões que sites estrangeiros dão gratuitamente. É certo que a página do IPMA na internet tem uma extensa secção com muita informação de “agrometeorologia”, mas são essencialmente dados do tempo que passou, registos de temperatura, humidades, evapotranspiração, etc. Previsões com quantidade de chuva prevista por hora não vejo.

Sabemos que o clima parece estar mais instável e com mais acontecimentos extremos; Sabemos que o grau de incerteza ainda é grande e as previsões nem sempre acertam, sobretudo quando os fenómenos são localizados (No dia anterior às cheias de Lisboa, choveu torrencialmente no Porto, até adiaram o jogo no Dragão e aqui ao lado, em Vila do Conde, não choveu) mas precisamos de previsões mais concretas. Quando remodelarem as previsões para acertar melhor nas cheias de Lisboa, espero que se lembrem também da agricultura. Pode ser?

Carlos Neves

Agroglobal: da Rússia a Vila do Conde, passando por Argivai – Carlos Neves


Publicado

em

por

Etiquetas: